EUA quebram recorde com 209 voos de deportação de imigrantes somente em junho
Número é o maior desde 2000 e representa aumento de 54% em comparação com a média dos seis meses anteriores

Em meio às duras políticas imigratórias de Donald Trump, os Estados Unidos quebraram recorde de voos de deportação de imigrantes, segundo dados compilados de forma independente por Thomas Cartwright, membro do grupo de defesa da imigração Witness at the Border, apresentados pelo jornal espanhol El País, nesta sexta-feira, 11. Ao todo, 209 voos de expulsão ocorreram em junho, o maior número desde 2000, e um aumento de 54% em comparação com a média dos seis meses anteriores.
Os recordes mensais anteriores datam de setembro de 2021, com 193 voos durante uma operação de repatriação de imigrantes haitianos, e 153 em agosto de 2023, segundo análise de Cartwright.
Apesar da retórica dura de Trump desde que voltou à Casa Branca, em 20 de janeiro deste ano, a escalada em deportações só começou a partir de meados de maio, justamente quando agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) apertaram o cerco contra imigrantes em situação irregular.
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Guatemala (51), Honduras (43) e El Salvador (22) receberam, juntos, mais da metade de todos os voos, segundo os dados compilados pelo El País. Os países da América do Sul receberam um total de 29 voos, enquanto apenas 12 foram para a África. O resto do mundo foi responsável por 35 voos no total.
Até agora, o Brasil recebeu 1.149 repatriados. O último voo dos Estados Unidos chegou ao Brasil em 4 de julho. Cerca de 80% dos brasileiros deportados dos EUA tinham “jornadas exaustivas de trabalho, de oito horas ou mais por dia, em contextos muitas vezes precarizados” no país norte-americano, segundo balanço do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Ao El País, Cartwright disse esperar que os voos aumentem ainda mais nos próximos meses, agora que o megaprojeto de lei tributária de Trump foi aprovado pelo Congresso. A legislação aumenta o orçamento alocado ao ICE de US$ 8 bilhões para mais de US$ 100 bilhões, segundo algumas estimativas. Desse total, cerca de US$ 14 bilhões serão destinados a operações de deportação, de acordo com o Brennan Center, um instituto independente de direito e políticas públicas em Nova York.
Em junho, a Suprema Corte dos Estados Unidos autorizou o governo Trump a deportar imigrantes para países diferentes dos seus de origem, incluindo destinos em conflito, como o Sudão do Sul. Com seis votos a favor e três contra, o tribunal deferiu o pedido do governo Trump para revogar uma ordem judicial que exigia que imigrantes deportados para os chamados “países terceiros” tenham uma “oportunidade significativa” de informar às autoridades americanas quais riscos eles podem enfrentar ao serem deportados para tais países.
Em paralelo às deportações de imigrantes em situação irregular, o governo americano também traçou em um memorando orientações para acelerar planos de retirada de cidadania de alguns cidadãos naturalizados americanos, segundo um documento interno publicado pelo Departamento de Justiça e visto pela imprensa americana.
O documento, que teria sido publicado em 11 de junho, pede aos advogados do departamento que instaurem processos civis para revogar a cidadania de pessoas que “obtiveram naturalização ilegalmente” ou obtiveram naturalização “por ocultação de um fato material ou por deturpação intencional”, segundo o jornal britânico The Guardian. Entre casos passíveis de perda de cidadania estão mentiras no formulário de imigração, fraude financeira ou médica, e acusação criminal pendente.
No centro da medida estão os estimados 25 milhões de cidadãos americanos que imigraram para o país após terem nascido no exterior, segundo dados de 2023.