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EUA querem restrições de Bolsonaro a investimentos chineses no Brasil

Secretário de Estado, Mike Pompeo, tratará sobre Venezuela, soberania de Israel em Jerusalém e ação conjunta contra organismos internacionais

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 29 dez 2018, 11h51 - Publicado em 28 dez 2018, 15h31
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  • O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, espera receber uma visita oficial do futuro chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro, logo no início de seu mandato, informou uma fonte do Departamento de Estado a jornalistas nesta sexta-feira, 28. Ausente na posse, no dia 1o de janeiro, Trump destacou o secretário de Estado, Mike Pompeo, para tratar com Bolsonaro de medidas para evitar a compra de terras no Brasil por investidores chineses, de ações regionais em favor da “liberdade do povo venezuelano contra o regime autoritário” de Nicolás Maduro e de uma conexão de ambos os países em questões de comércio internacional, mudança do clima e direitos humanos.

    Pompeu embarcará para Brasília no dia 31 de dezembro e, depois da posse de Bolsonaro, se encontrará com o presidente da Colômbia, Iván Duque, em Cartagena das Índias, para tratar das crises na Venezuela e do fluxo de emigrantes desse país para o território colombiano. Recentemente, porém, Nicolás Maduro denunciou um complô de Trump, Duque e Bolsonaro para desferir um golpe de Estado na Venezuela.

    A autoridade do Departamento de Estado tratou de desviar-se de uma pergunta sobre quanto essa agenda de Pompeu na América do Sul estaria relacionada a uma nova estratégia de Washington para lidar com a ditadura da Venezuela. Acentuou que a Colômbia tem prioridade alta em Washington e é um país com o qual os Estados Unidos mantém antiga e profunda relação. Mas acrescentou que a presença de militares russos no país para ações militares conjuntas preocupa Pompeu e será tema de conversas em Cartagena.

    O governo de Jair Bolsonaro promete ser o mais alinhado aos Estados Unidos desde 1943, quando Getúlio Vargas fechou com Washington seu apoio aos aliados da II Guerra Mundial e extraiu dos americanos a tecnologia e o investimento para a instalação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a primeira indústria de base do país. Nem mesmo os governos da ditadura militar (1964-1985) tiveram sua política externa conectada com a de Washington, ao contrário do que o próprio Bolsonaro e seu chanceler, Ernesto Araújo, se mostram dispostos a fazer. A aproximação lembra a tentativa da Argentina, nos anos 1990, de manter “relações carnais” com os Estados Unidos.

    Questionada sobre declarações de Bolsonaro contrárias a princípios dos direitos humanos, a autoridade americana respondeu terem sido “manifestações antigas”. “O presidente eleito tem liderado a defesa dos direitos humanos, das liberdades e da democracia em Cuba, Venezuela e Nicarágua”, insistiu ela, sem mencionar o posicionamento do futuro governante sobre a questão no próprio Brasil.

    Israel e China

    Aos jornalistas, a diplomata americana afirmou que o governo de Trump espera a transferência “em breve” da embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém e, portanto, o reconhecimento da soberania israelense sobre a cidade sagrada, a despeito da reivindicação palestina sobre sua parcela oriental. A mesma atitude foi tomada por Washington em maio passado. Assim como gerou controvérsias em maio, nos Estados Unidos, esta é uma questão polêmica até mesmo no círculo mais próximo de Bolsonaro.

    Bolsonaro recebeu o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na sexta-feira 28 no Rio de Janeiro. Em meio a uma crise política e a denúncias de corrupção, o premiê decidiu não ficar no Brasil para a posse presidencial. Mas não perdeu a oportunidade para tratar com o presidente eleito de seu projeto mais caro no momento: o reconhecimento de mais países à soberania israelense sobre Jerusalém, em claro desrespeito a resoluções da Assembleia-Geral e do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

    Em sua entrevista, a autoridade do Departamento de Estado valeu-se justamente da expressão “soberania” para abordar questões que o governo de Bolsonaro pretende tomar em relação à China e a vários organismos internacionais, em claro alinhamento com a política de Washington. Alegando declarações anteriores de Bolsonaro, a diplomata afirmou que Pompeo conversará com Bolsonaro sobre a proibição de venda de terras agrícolas para investidores chineses.

    “Tomamos notas de alguns comentários do presidente eleito sobre sua preocupações com o papel da China no Brasil. O tema do papel da China nas Américas está agora em nossas discussões com o Canadá e o México”, afirmou a fonte. “O secretário de Estado deixou bem claro que estamos mais do que contentes em competir com as companhias chinesas. Só queremos estar seguros de que as empresas chinesas ajam em interesse do país estão estão investindo. Houve publicações recentes em vários meios sobre a suspeita de que essas empresas não respeitam as leis, se envolvem em corrupção e não completam os projetos com os quais se comprometeram.”

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    Com Bolsonaro, Pompeo igualmente tratará de uma das tendências que o governo de Trump espera ver replicada pelo Brasil: a confrontação e até mesmo o desligamento de organismos e acordos internacionais. Os Estados Unidos retiraram-se neste ano da Unesco e pretendem denunciar o Acordo de Paris, de 2015, que fixou compromissos de redução de emissões de gases do efeito estufa como forma de reduzir os efeitos da mudança climática e evitar o aquecimento do planeta em mais de 2 graus , em relação aos níveis da era pré-industrial.

    Bolsonaro já indicou que seguirá pelo mesmo caminho, em relação ao Acordo de Paris, e chegou a pedir ao governo de Michel Temer que cancelasse o compromisso do Brasil de sediar a Conferência das Nacões Unidas sobre Mudança Climática (COP 25), em 2019. O presidente eleito igualmente se mostra disposto a retirar o Brasil do Conselho de Direitos Humanos e de outros organismos internacionais. Até o momento, não se manifestou sobre o projeto dos Estados Unidos de reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC), considerada por Washington como benevolente com a China.

    “A questão da soberania dos Estados e instituições multilaterais é bem mais ampla do que o Acordo de Paris. É preciso assegurar que o sistema internacional esteja trabalhando de modo a beneficiar os países e Estados-membros”, afirmou a diplomata americana. “Se o Brasil vai ficar ou não no Acordo de Paris é uma decisão soberana do Brasil. Mas haverá conversas (entre Pompeo e Bolsonaro) sobre isso em um sentido mais amplo.”

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