EUA são chamados de ‘hipócritas’ por diferença entre Rússia e Israel
Críticos questionam aplicação de sanções contra Rússia por crimes de guerra e ocupação, ao mesmo tempo que Israel se manteria ilesa
Organizações internacionais classificaram como “hipócritas” as atitudes de Estados Unidos e países aliados da Europa pela aplicação de sanções contra a Rússia e apoio às investigações criminais contra o país, ao mesmo tempo em que não reagem da mesma maneira contra os crimes cometidos por Israel contra a população palestina.
No mês passado, a Anistia Internacional pediu às Nações Unidas que sanções fossem aplicadas contra a Israel sob a acusação de violar a lei internacional ao praticar uma forma de apartheid e cometer crimes contra a humanidade em sua “dominação” sobre palestinos.
A Convenção Internacional sobre a Supressão e Punição do Crime de Apartheid de 1973 e o Estatuto de Roma de 1998 do Tribunal Penal Internacional (TPI) definem o apartheid como um crime contra a humanidade que consiste em três elementos principais. São eles a intenção de manter a dominação de um grupo racial sobre outro; o contexto de opressão sistemática do grupo dominante sobre outro; e atos desumanos.
Autoridades palestinas e relatores especiais da ONU nos territórios ocupados também pressionaram por sanções sobre a ocupação de terras na Cisjordânia, o bloqueio de Gaza e o assassinato em larga escala de civis palestinos.
Para a diretora da organização de direitos humanos Human Rights Watch no Oriente Médio, Sarah Leah Whitson, há claros paralelos entre as violações russas e israelenses do direito internacional, incluindo o cometimento de crimes de guerra. A HRW denunciou em 2021 o que chamou de “apartheid” promovido por Israel contra palestinos.
“Vemos que não apenas o governo, mas as empresas americanas estão se submetendo a sancionar e boicotar qualquer coisa que tenha associação com o governo russo”, disse ela. “Compare isso com exatamente o oposto quando se trata de sancionar Israel por suas violações do direito internacional a ponto de os estados americanos aprovarem leis para punir os americanos, a menos que prometam nunca boicotar Israel. Está muito claro que os motivos para resistir às sanções contra Israel, ou mesmo o cumprimento da lei internacional, são puramente políticos”, completou.
Em defesa, apoiadores de Israel negam qualquer paralelo entre as duas situações. Para Jonathan Greenblatt, chefe-executivo da organização não governamental judaica Liga Antidifamação, o conflito entre Israel e Palestina se trata de uma “disputa territorial histórica entre dois povos”.
“Comparar essa complexidade com o uso bruto da força da Rússia contra a nação soberana e pacífica da Ucrânia é deturpar intencionalmente o conflito israelo-palestino e é profundamente insensível à crise humanitária e de segurança que os ucranianos enfrentam hoje”, disse.
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Apesar da pressão, os Estados Unidos e outros governos seguem a postura de não aplicar sanções contra Israel e reforçam as punições à Rússia. Na última terça-feira, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse ao Conselho de Direitos Humanos da ONU que é necessário “enviar uma mensagem absoluta ao presidente russo, Vladimir Putin, para impedir o avanço na invasão que já matou centenas de civis”.
No mesmo discurso, Blinken fez questão de chamar as investigações sobre as ações israelenses nos territórios ocupados de “uma mancha na credibilidade do Conselho” e pediu que elas fossem interrompidas. As investigações consideraram Israel responsável por persistentes “violações do direito à vida” e outros crimes.
De acordo com James Zogby, presidente da Arab American Institute, organização que defende os interesses dos árabes-americanos, até mesmo a forma que os combatentes são retratados passam uma mensagem diferente. Enquanto ucranianos arremessando coquetéis molotov são vistos como heróis, palestinos se defendendo contra o Exército israelense são taxados de terroristas.
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Os Estados Unidos não estão sozinhos nas acusações de hipocrisia. Canadá e Reino Unido também são alvos de acusações, principalmente por terem dito que o Tribunal de Haia deveria desistir de investigar as acusações contra Israel, uma vez que a Palestina não é considerada um país soberano. No entanto, a ONU a reconhece como um Estado legítimo.
No Reino Unido, a parlamentar do partido trabalhista, Julie Elliot, questionou o motivo de as sanções não serem aplicadas contra Israel.
“Em 2014 punimos a Rússia pela anexação da Crimeia e agora faremos o mesmo pela invasão à Ucrânia e concordo plenamente com isso. Mas por qual motivo não fazemos o mesmo com os israelenses?”, questionou.
As críticas também foram direcionadas às entidades esportivas. A UEFA, federação europeia de futebol, puniu recentemente o Celtic, clube de futebol da Escócia, depois que bandeiras da Palestina foram hasteadas por torcedores, afirmando que a manifestação de símbolos políticos não era permitida.
Recentemente, no entanto, bandeiras ucranianas foram levantadas por torcedores de vários times da Europa e nenhuma punição foi aplicada.