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Ex-diretor da campanha de Trump é condenado a quase 4 anos de prisão

O consultor e lobista Paul Manafort, de 69 anos e com saúde frágil, será julgado novamente na próxima semana e espera agora o indulto presidencial

Por Lúcia Guimarães Atualizado em 4 jun 2024, 15h42 - Publicado em 7 mar 2019, 21h11

A Justiça Federal do estado de Virgínia condenou nesta quinta-feira, 7, Paul Manafort a 3 anos e 11 meses de prisão ao final de um dos dois julgamentos que envolvem este consultor político e lobista que dirigiu a campanha eleitoral de Donald Trump, em 2016, por cinco meses. Manafort, de 69 anos de idade, foi declarado culpado de crimes financeiros. Na próxima semana, em uma corte federal de Washington, ele vai conhecer sua outra sentença – desta vez, pelos crimes de conspiração e interferência com testemunhas.

O ex-colaborador de Trump chegou ao tribunal em uma cadeira de rodas e vestido com o macacão de presidiário. Trata-se de cena extraordinária para o lobista e consultor americano que talvez tenha exercido o maior poder sobre um país estrangeiro, a Ucrânia.

Os promotores haviam pedido a pena máxima de 25 anos pelos seus crimes de fraude bancária e tributária. Paul Manafort fora demitido da campanha de Trump em agosto de 2016, três meses antes da eleição, por causa da publicidade negativa provocada por seus vínculos com oligarcas russos e ucranianos. Tornou-se, desde o ano passado, um dos mais importantes protagonistas da ascensão de Trump ao poder a cair na malha do procurador especial Robert Mueller, que investiga a interferência da Rússia na eleição de 2016.

Ao sair de cena com a sentença que ainda receberá em Washington, porém, Manafort não desaparecerá do longo fio que Mueller começou a puxar.

Os pecados financeiros de Manafort estão à sombra de uma carreira que, por quase uma década, até 2014, se amparava em um país, a Ucrânia, e no entorno de um cliente, Viktor Yanukovich. Gângster e fantoche do Kremlin, Yanukovich governou de 2010 a 2014, quando foi deposto por uma revolução popular e fugiu para a Rússia.

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A queda de Yanukovich e a subsequente anexação da Crimeia pelo presidente russo, Vladimir Putin, trouxeram ruína a Manafort. Depois de anos de privilégios sem precedentes, requentado saunas e nadando nu com o presidente ucraniano, cobrando somas extorsivas para injetar marketing americano na vida política da ex-república soviética, Manafort entrou na mira do Departamento de Justiça americano.

O governo federal entrevistou Manafort pela primeira vez em outubro de 2014, como parte da investigação sobre as finanças de Yanukovich. Assustado, ele se viu impedido de tocar nos milhões que havia depositado em paraísos fiscais e contraiu 15 milhões de dólares em empréstimos respaldados no valor de suas propriedades, mentindo para os bancos nos Estados Unidos. Sua vida pessoal entrou em espiral descendente e, no começo de 2015, endividado e sem trabalho depois de um colapso nervoso, ele foi internado em uma clínica do Arizona.

Em junho daquele ano, Donald Trump anunciou sua candidatura improvável à Casa Branca, descendo de uma escada rolante diante de figurantes contratados a 50 dólares por cabeça, na Trump Tower da 5ª Avenida, em Nova York. De volta a Washington, Manafort, que tinha representado as empresas de Trump nos anos 1980 e possuía um apartamento na Trump Tower, enxergou uma oportunidade.

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Ele telefonou para um amigo comum e pediu uma chance de comandar a campanha eleitoral, notória pelo caos e pela improvisação. Sabendo da fama do candidato de pechinchar e não pagar as contas, Manafort ofereceu seus préstimos de graça. Ganhou o emprego e passou a trabalhar mais pelas próprias finanças do que pelo seu cliente.

Em 2015, Manafort havia despertado a ira de um ex-associado, o oligarca russo Oleg Deripaska, a quem devia 25 milhões de dólares. A Rússia sendo a Rússia, a interseção dos oligarcas, o Kremlin e o crime organizado local assustaram Manafort.  Deripaska, vitorioso nas guerras pelo controle do alumínio após o desmonte da União Soviética, havia sofrido enormes perdas com a crise financeira de 2008. Manafort passou a fugir do bilionário russo, que moveu um processo em Nova York para recuperar a dívida.

Assim que assumiu as rédeas da campanha presidencial, Manafort mandou recados para o oligarca, oferecendo-lhe um encontro privado com Trump e se dizendo esperançoso de que o toma lá dá cá zerasse a dívida. Ele ofereceu pesquisas internas do Partido Republicano aos russos e, durante a convenção que consagrou Trump como candidato, Manafort diluiu a plataforma política do partido, que defendia maior punição à Rússia pela invasão da Ucrânia.

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Na bem guardada investigação de Robert Mueller, pouco se sabe quanto as conexões russas e ucranianas de Manafort podem precipitar novos indiciamentos. Nesta semana, o democrata que preside o Comitê de Inteligência da Câmara, Adam Schiff, contratou o promotor Daniel Goldman, um dos maiores especialistas em crime organizado russo, como assessor das investigações em curso.

Há poucos tombos espetaculares como o de Paul Manafort na crônica política americana. Ele reinventou o jogo de influência em Washington, enriqueceu tornando ditadores sanguinários como Mobutu Sese Seko e Ferdinand Marcos palatáveis na capital americana e é o principal responsável por sufocar uma revolta de delegados republicanos que teria impedido a nomeação do candidato Trump em julho de 2016.

A ironia é que, se ele não tivesse se alistado na campanha de Trump, talvez sua fortuna e seus crimes tivessem ficado abaixo do radar da Justiça. Doente e sem saída no âmbito jurídico, restará ao lobista e consultor político o indulto presidencial que seu antigo cliente sinalizou no passado vir a conceder-lhe.

 

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