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Ex-premiê israelense compara plano do governo de Israel para Gaza a campo de concentração

Ehud Olmert, que chefiou governo de Israel entre 2006 e 2009, acusa autoridades do país de promover processo de limpeza étnica

Por Júlia Sofia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 jul 2025, 17h19

O ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert fez duras críticas ao plano do governo de Benjamin Netanyahu de construir uma “cidade humanitária” para abrigar palestinos deslocados no sul da Faixa de Gaza. Em entrevista ao The Guardian, publicada no domingo, 13, Olmert afirmou que a proposta equivale, na prática, à criação de “um campo de concentração” e disse que, se levada adiante, representaria um processo de limpeza étnica.

“É um campo de concentração. Sinto muito”, disse Olmert. “Se os palestinos forem transferidos para essa cidade e impedidos de sair, então estamos diante de um processo de limpeza étnica”, declarou. Segundo o ex-líder de Israel, o gabinete de Netanyahu já estava cometendo crimes de guerra em Gaza e na Cisjordânia, e a construção do campo marcaria uma escalada.

A proposta do governo de Israel foi anunciada na semana passada pelo ministro da Defesa, Israel Katz, como uma solução para reunir a população de Gaza em um único território sob controle militar. A iniciativa prevê a construção de um assentamento nas ruínas da cidade de Rafah, inicialmente com capacidade para 600 mil pessoas, podendo chegar a abrigar toda a população palestina da faixa — mais de 2 milhões de pessoas. Uma vez dentro do assentamento, os palestinos não poderiam sair, exceto para outros países, por meio de planos de emigração patrocinados por Israel.

Segundo uma fonte próxima às discussões, ouvida pelo The Guardian, o plano foi debatido em reunião com Netanyahu na noite de domingo. A princípio, estimava-se que o projeto levaria meses e exigiria bilhões de dólares. Após as críticas e a repercussão na imprensa israelense, o premiê teria solicitado alterações para reduzir tempo e custos de execução.

Em resposta às duras críticas de Olmert, o gabinete do premiê Benjamin Netanyahu chamou o ex-líder de “criminoso condenado” que “desonra Israel”. Olmert, que chefiou o governo de Israel entre 2006 e 2009, cumpriu pena por corrupção e deixou a prisão em 2017. Desde então, tornou-se um dos críticos mais contundentes ao atual governo.

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O ex-premiê também revelou estar trabalhando ao lado do ex-ministro das Relações Exteriores da Autoridade Palestina, Nasser al-Kidwa, para buscar apoio internacional a um novo acordo de paz. Olmert afirma ainda acreditar em uma solução de dois Estados.

Em meio às negociações em torno de um possível cessar-fogo entre Israel e o grupo militante palestino Hamas, o plano do governo de Israel foi debatido em um encontro entre Netanyahu e Donald Trump, na semana passada.

“Estamos trabalhando com os EUA para encontrar países dispostos a concretizar o que sempre dizem: que querem dar aos palestinos um futuro melhor”, disse Netanyahu, que visitou Trump pela terceira vez desde que o republicano voltou à Presidência americana, em janeiro. “Isso se chama livre escolha. Sabe, se as pessoas querem ficar, elas podem ficar, mas se querem ir embora, elas devem poder ir embora”, completou.

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Trump, que no início deste ano causou indignação quando lançou sua ideia de realocar palestinos e assumir o controle da Faixa de Gaza para transformá-la em uma “Riviera do Oriente Médio”, disse que houve “grande cooperação” sobre o assunto por parte dos “países vizinhos”.

A proposta foi condenada pela comunidade internacional. O Escritório de Direitos Humanos da ONU, com sede em Genebra, afirmou que “qualquer transferência forçada ou deportação de pessoas de território ocupado é estritamente proibida”.

Cessar-fogo

Também na semana passada, Trump anunciou que Tel Aviv havia aceitado uma proposta americana para uma trégua de sessenta dias. Poucas horas depois, o grupo militante palestino Hamas entregou a mediadores do Catar e do Egito uma devolutiva “positiva”, que deve “facilitar a obtenção de um acordo”, mas impasses ainda persistem.

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Quando anunciou a proposta – que chamou de “final” –, Trump disse, sem dar detalhes, que o plano suspenderia as hostilidades no enclave por sessenta dias, período durante o qual seriam feitos esforços para encerrar o conflito em definitivo. O jornal al-Araby, do Catar, indicou que o Hamas concordou com os “pontos principais” do plano, mas pediu modificações no texto antes de dar seu aval.

No dia seguinte, porém, o governo israelense rejeitou quaisquer mudanças, e Netanyahu enfatizou no domingo que a delegação despachada ao Catar para uma nova rodada de negociações indiretas tinham “instruções claras” para chegar a um acordo, mas sem fazer concessões.

Segundo Trump, Israel já deu seu OK para o acordo, mas fontes próximas ao grupo palestino haviam afirmado à Reuters que seus membros buscavam garantias mais fortes de que qualquer pausa nas hostilidades levaria ao fim permanente da guerra de 20 meses, assim como à retirada completa de tropas israelenses de território palestino. O acordo também prevê a entrada imediata de ajuda humanitária em Gaza.

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A proposta, segundo documentos das negociações vistos pela emissora americana CNN, inclui a libertação de dez reféns israelenses vivos, mantidos em Gaza desde o ataque do Hamas ao sul de Israel em outubro de 2023, que desencadeou o conflito, e a devolução dos corpos de mais dezoito. Em troca, prisioneiros palestinos mantidos em prisões israelenses serão soltos.

O Hamas capturou 251 reféns durante o ataque de 2023. Acredita-se que menos da metade dos 50 que permanecem em Gaza estejam vivos.

A guerra em Gaza foi desencadeada em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas lançou um ataque surpresa ao sul de Israel, matando cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e fazendo 251 reféns. O Hamas ainda mantém cerca de 50 em cativeiro, mas acredita-se que apenas cerca de vinte estejam vivos.

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