Ex-presidente do Peru fura fila da vacina e é acusado de 3 crimes
Ex-presidente diz que era voluntário nos testes no país, mas pesquisadores negam; ministras da Saúde e de Relações Exteriores renunciaram após escândalo
O Ministério Público do Peru iniciou uma investigação preliminar contra o ex-presidente Martin Vizcarra, depois de ele ter sido acusado de usar sua posição política para receber a vacina contra o coronavírus do laboratório chinês Sinopharm, que foi submetida a ensaios clínicos no país.
O ex-chefe de governo é acusado de crime contra a administração pública, extorsão e negociação incompatível ou proveito do cargo que ocupava. O Ministério Público acrescentou que interrogará o próprio político, a sua esposa, Maribel Díaz, e o chefe da equipe de investigação dos julgamentos Sinopharm no país, Germán Málaga.
Duas ministras apresentaram pedidos de renúncia ao cargo depois de se envolverem no escândalo. Na última sexta-feira 12, Pilar Mazzetti, que chefiava a pasta da Saúde, pediu demissão depois que um jornal de Lima revelou as acusações contra Vizcarra.
Nesta segunda-feira 15, foi a vez de Elizabeth Astete, ministra das Relações Exteriores do Peru, pedir para sair. Ela admitiu que furou a fila da campanha de imunização ao receber, em 22 de janeiro, uma dose da vacina de um “lote remanescente”. As duas também são alvo da investigação do Ministério Público, além do ex-primeiro-ministro Walter Martos.
A Procuradoria também solicitou informações sobre o processo de testes da vacina à Universidade Peruana Cayetano Heredia (UPCH) e ao Instituto Nacional de Saúde (INS).
A primeira fase de vacinação no Peru tem os profissionais de saúde como grupo prioritário, mas o próprio presidente interino Francisco Sagasti, aos 76 anos, foi vacinado publicamente na última terça-feira 9, o primeiro dia de imunização no país. Na ocasião, o líder interino incentivou os peruanos a aderirem à campanha de vacinação.
Defesa
Vizcarra publicou nesta segunda-feira 15 um vídeo em suas redes sociais no qual se defendeu das acusações de ter recebido diretamente as doses do Sinopharm. O ex-presidente diz que era um dos voluntários nos ensaios clínicos no país, algo que a UPCH negou.
Apesar de ter pedido desculpas à população por não ter relatado sua participação nos testes, o ex-chefe de governo fez uma nova revelação, observando que ele não só participou com sua esposa, como já havia informado, mas também com seu irmão mais velho. O ex-presidente argumentou que foi uma decisão pessoal de assumir o risco sanitário envolvido na aplicação de uma vacina experimental e negou que tenha mentido.
“Assumo minha responsabilidade nesse sentido e, por respeito aos cidadãos de meu país, peço sinceramente desculpas aos peruanos por não ter relatado esse fato naquele momento”, declarou Vizcarra, que prometeu colaborar com as investigações. “Não cometi crime algum, e não houve aqui dano contra ninguém, muito menos contra o Estado”, finalizou.
(Com EFE)