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Explosão em Beirute: retrato da devastação colossal (e de tempos duros)

Com metade dos habitantes abaixo da linha da pobreza e o desemprego em 35%, a população já enfrentava uma crise humanitária havia dois anos

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 4 jun 2024, 15h46 - Publicado em 7 ago 2020, 06h00

Por uma fração de segundos, o tempo pareceu congelar. Uma explosão e, em seguida, uma coluna de fumaça cor de laranja subiu ao céu. Depois, uma colossal bolha de ar se formou em volta do armazém no Porto de Beirute antes de se tornar uma onda afeita a destruir o que encontrasse pela frente. Uma coleção de vídeos assustadores correu as redes sociais. Aos prantos, o governador Marwan Abboud comparou a explosão aos cogumelos atômicos de Hiroshima e Nagasaki, que, coincidentemente, completariam 75 anos dois dias depois da tragédia libanesa, em 4 de agosto. De tão grande, o impacto chegou a ser sentido na costa do Chipre, a 200 quilômetros da capital. Metade da cidade foi ao chão, com pelo menos 135 mortos e mais de 5 000 feridos. Investigações preliminares indicam que o acidente foi fruto da negligência das autoridades. Desde 2014 elas vinham sendo alertadas sobre o depósito recheado com mais de 2 700 toneladas de nitrato de amônio — substância altamente inflamável usada na fabricação de fertilizantes e explosivos—, mas nada fizeram. Em um país na vizinhança de Síria e Israel, sob forte influência do grupo xiita Hezbollah, é difícil descartar a possibilidade de terrorismo, embora afastada logo de cara. Mas há uma certeza: o drama faz o Líbano retroceder ao passado recente, durante os quinze anos de guerra civil, de 1975 a 1990. Parece devastado e assustado. Com metade dos habitantes abaixo da linha da pobreza e o desemprego em 35%, a população já enfrentava uma crise humanitária havia dois anos. A explosão é retrato de tempos duros.

Publicado em VEJA de 12 de agosto de 2020, edição nº 2699

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