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Fechamento de fronteiras impede casais de países diferentes de se rever

Ação dá origem a movimento global que pede às autoridades o fim das restrições

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h53 - Publicado em 17 jul 2020, 06h00
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  • A gerente de novos negócios Sabrina Nunes e o engenheiro da tecnologia da informação Pierre-Etienne Gerbet imaginavam que 2020 seria o período mais feliz da vida deles. Depois de quase dois anos de relacionamento a distância — ela vive no Brasil e ele, na França —, decidiram assinar a papelada para, enfim, sacramentar a união. Os novos planos incluíam morar juntos em Paris e iniciar uma jornada repleta de amor e esperança. Tudo mudou com a pandemia do coronavírus, que não só interrompeu o sonho de Sabrina e Pierre como despedaçou os corações de milhares de casais apaixonados. Com as restrições de circulação e o fechamento das fronteiras de diversos países, amantes binacionais que não são oficialmente casados estão impossibilitados de se reencontrar. Dizem que o amor não tem limites, mas, nesse caso, eles se tornaram concretos diante da intransigência das autoridades.

    Os relatos de desencontros passaram a ser tão comuns que estimularam a criação de grupos que clamam pela solução do problema. Eles não pedem muito: querem apenas o direito de rever a pessoa amada. No Facebook, 7 300 pessoas fazem parte do movimento Love Is Not Tourism (Amor Não É Turismo), criado em 27 de junho por casais separados pela pandemia e que busca pressionar os governos para liberar as fronteiras. Na União Europeia, quase 17 000 pessoas assinaram um abaixo-assinado on-line. Na Alemanha, são 27 300 apaixonados que querem se reencontrar com a cara-metade. O país é um dos poucos que demonstraram alguma sensibilidade com o drama dos casais. Em entrevista recente, o ministro do Interior, Horst Seehofer, afirmou ser favorável ao movimento em prol do amor, mas as barreiras ainda não foram eliminadas. Como os impedimentos persistem, o desenvolvedor de games alemão Felix Urbasik resolveu criar o site loveisnottourism.org, que reúne informações sobre a situação em diferentes regiões. A namorada dele mora na Austrália e não consegue viajar para encontrá-lo. “Na visão dos europeus, a Austrália está entre os países mais seguros”, diz Felix. “Mesmo assim, descobrimos que os moradores não podem sair da ilha.”

    O movimento ganhou força no início de julho, quando países europeus começaram a abrir fronteiras e divulgar quais residentes de outras nações seriam bem-vindos. Para os brasileiros barrados nas listas por causa do número elevado de contágios pela Covid-19, a situação é obviamente pior. Se uma australiana sofre para embarcar para a Alemanha, uma brasileira que deseja fazer o mesmo encontra obstáculos ainda mais intransponíveis. A campanha em defesa dos casais é incipiente no Brasil — foram colhidas mais de 800 assinaturas até a quarta-feira 15 —, mas não menos relevante para cada coração que está distante de sua grande paixão. “O que estamos passando é uma dor solitária”, diz Sabrina. “Nosso único desejo é estar ao lado da pessoa que amamos.” Há alguns dias, homens e mulheres mobilizados nas redes sociais resolverem endereçar uma carta ao governo brasileiro. “Estamos simplesmente pedindo o direito de estar juntos”, diz um trecho do texto. “Vivemos em um mundo globalizado, com milhares de casais binacionais que são uma família, mas sem ter algo oficial no papel. Nosso pedido é para as fronteiras se abrirem para o amor.”

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    (Arquivo Pessoal/.)

    Gabriela Rodrigues, uma das participantes mais ativas em um grupo no Facebook, compartilhou os telefones dos ministérios da Justiça, Casa Civil, Infraestrutura e do Departamento de Imigração. Em outra postagem, mostrou o passo a passo para criar uma conta no canal do governo federal e explicou como enviar uma mensagem à ouvidoria, além de destacar os principais órgãos que precisam ser acionados: Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Justiça e Polícia Federal. Gabriela recebeu o aviso automático de prorrogação de prazo para a resposta das autoridades, sendo a data final até 10 de agosto. “Não há posicionamento”, diz ela. “Não sabemos quando isso vai acabar.” Em comum, todos os amantes demonstram o mesmo desespero pela situação. Eles argumentam que testes poderiam confirmar se estão infectados e até aceitam a ideia de, se preciso, permanecer alguns dias em quarentena no país de destino antes de reverem o parceiro. O que não admitem é ficar apartados em decorrência de entraves burocráticos.

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    “Para muitas pessoas, a vida de casado começará a distância”, diz o professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas Marcelo Santos. Para ele, a pandemia desencadeará grandes transformações. “A partir de agora, o virtual estará agregado às relações”, resume. Segundo o psicólogo Thiago de Almeida, especializado em relacionamentos afetivos, há o risco de o distanciamento deixar sequelas. “O amor ocupa um lugar de destaque na vida humana”, afirma. “Por isso mesmo, a separação pode causar ansiedade, depressão e até doenças psicossomáticas.” Enquanto os governos não oferecem uma solução, os amantes fazem o que podem. Sabrina e Pierre avaliam viajar para países que permitiriam que ficassem juntos. “As informações não são claras e já tentamos de tudo”, diz Sabrina. “A ideia é que ele vá para um lugar em que eu possa entrar, pois os brasileiros têm mais restrições que os euro­peus.” Os dois apaixonados estão dispostos a fazer qualquer tipo de loucura. Que o amor, no fim, vença.

    Publicado em VEJA de 22 de julho de 2020, edição nº 2696

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