Festas: a nova ameaça de contágio em países que relaxaram a quarentena
Encontros com mais pessoas que o permitido têm sido responsáveis pela disseminação de coronavírus em países que apostaram em "novo normal"
Os países que conseguiram achatar a curva de contágio tinham um plano: retomar as atividades não essenciais e, ao mesmo tempo, manter o vírus isolado. Surgiu assim a ideia de um “novo normal”, que permitiu o relaxamento das medidas de isolamento social “em modo de segurança”, o que inclui uso de máscaras, distanciamento entre pessoas nos locais públicos e reuniões com poucas pessoas, apenas em locais ao ar livre.
Mas, alguns países começam a descobrir que o “velho normal”, está se impondo. Sedenta por encontros, a população não respeitou as regras mais básicas e está promovendo reuniões que são verdadeiras festas… para o coronavírus se disseminar.
Nesse fim de semana, a polícia de Portugal desfez duas festas à beira mar em pontos próximos à Lisboa. Um delas contava com mais de mil convidados, reunidos em um estacionamento de restaurante. A legislação do país proíbe encontros com mais de 20 pessoas.
O país ibérico é apontado como um dos que melhor lidaram com a pandemia do novo coronavírus, registrando apenas 39 mil casos e pouco mais de 1,5 mortes. As autoridades estão preocupadas que as festas possam reverter esse quadro. O número de novos casos entre as pessoas de 10 a 30 anos de idade aumentou em cerca de 90%, desde que Portugal relaxou as regras de circulação.
Por enquanto, as festas ainda são vistas com fenômenos isolados, presentes apenas nos bairros mais populosos: “O núcleo do problema está centrado em apenas em 15 bairros. Precisamos de um esforço maior nessas áreas”, disse o primeiro ministro Antonio Costa, que anunciou que, nesses locais, o limite para reuniões será de 10 pessoas e impôs um toque de recolher à agitada vida noturna da capital. Os pontos comerciais fecharão ás oito da noite com exceção dos restaurantes, que poderão funcionar, contanto que não sirvam bebida alcólica após esse período.
Do outro lado do mundo, a Austrália, outro país que conseguiu conter rapidamente a circulação do vírus, enfrenta problema semelhante. A cidade de Melbourne, umas das mais populosas, recomendou o fechamento de bairros inteiros depois que reuniões familiares e festas de aniversário causaram novos surtos de Covid-19. Nesta segunda-feira, um comitê nacional de saúde aconselhou que mais de um milhão de pessoas permanecessem em suas casas.
O governo do estado de Victória está considerando transformar o alerta em uma ação mais efetiva, com a proibição de circulação. Cerca de 83% dos 116 casos relatados na Austrália nos últimos sete dias são originários do estado, com uma grande parcela atribuída à transmissão comunitária
Após meses de bloqueio, a maioria dos estados e territórios da Austrália conseguiu reduzir o número de casos ativos para quase zero, relaxando as fronteiras estaduais. Em, Sydney, a vida está voltando ao normal, com escolas e praias abertas e restrições relativamente frouxas ao distanciamento social. No oeste da Austrália, multidões de 30.000 pessoas poderão assistir a partidas esportivas a partir de sábado e locais de música ao vivo abrirão suas portas novamente.
A Suíça parece ir pelo mesmo caminho. A partir desta segunda-feira, o país passou a permitir encontros com até mil pessoas e reduziu a distância física mínima entre indivíduos de dois metros para um metro e meio. Uma precisão que apenas os suíços parecem capazes de observar.
O relaxamento também retira a limitação de horário de funcionamento para restaurantes, bares e clubes – que tinham que fechar até a meia-noite – e permite que os clientes consumam em pé nos estabelecimentos. Também não estão mais proibidas as competições de esportes com contato físico direto. O Campeonato Suíço de futebol já foi retomado na semana passada, após quase quatro meses de paralisação. Até o momento, o país registra 31 mil contágios e cerca de 2 mil mortos por Covid-19. Resta saber ate quando a aposta no “novo normal” será mantida.
(Com EFE e Reuters)