Filho do último xá do Irã culpa Khamenei por guerra e fala em ‘momento Muro de Berlim’
Segundo príncipe herdeiro, regime dos aiatolás 'está derrotado, à beira do colapso', e conflito com Israel deve ser usado para derrubá-lo

O príncipe Reza Pahlavi, principal rosto da oposição iraniana e filho mais velho de Mohammad Reza Pahlavi, o último xá do Irã, usou uma declaração à imprensa em Paris nesta segunda-feira, 23, para culpar o líder supremo do país, Ali Khamenei, pelo “conflito devastador” que se desenvolve na região desde os ataques de Israel, há exatos dez dias. Seu pai, que mantinha uma postura pró-americana, foi deposto durante a Revolução Islâmica de 1979.
Pahlavi, que vive em exílio nos Estados Unidos, afirmou que Khamenei e sua facção corrupta e destrutiva “levaram a economia da nossa nação à beira do colapso, saquearam nossa infraestrutura e recursos nacionais, desperdiçaram a riqueza da nação no desenvolvimento de armas nucleares, destruíram a segurança do Irã e roubaram a soberania do povo iraniano”.
Ele acrescentou que o regime dos aiatolás “está derrotado, à beira do colapso, e não deve ser permitido que continue”. “Chegou a hora de pôr fim a esta ruína e começar uma nova era para o Irã”, conclamou.
Segundo o príncipe herdeiro, relatórios de inteligência indicam que as famílias de Khamenei e de altos funcionários do governo estão se preparando para fugir do Irã. Pahlavi insistiu que os aiatolás “vivem seus últimos momentos”, pintando com palavras um cenário em que as Forças Armadas do país estão fragmentadas, o povo está unido e “os alicerces desta tirania de 46 anos estão abalados”.
“Este é o nosso momento Muro de Berlim, mas, como todos os momentos de grande mudança, ele também é repleto de perigos. Estamos em uma encruzilhada. Um caminho leva ao derramamento de sangue e ao caos, o outro a uma transição pacífica e democrática”, afirmou.
Ataque dos EUA
Apesar do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que entrou diretamente na guerra ao atacar três instalações nucleares iranianas no último sábado 21, ter falado publicamente sobre a possibilidade de assassinar Khamenei, seu secretário da Defesa, Pete Hegseth, descartou uma mudança no regime no Irã, dizendo que o ataque foi estratégico “para neutralizar uma ameaça aos nossos interesses nacionais por conta do programa nuclear iraniano”.
Os governos de Israel e dos Estados Unidos sustentam que o Irã estava prestes a obter um grau de enriquecimento de urânio de 90%, o que seria suficiente para a construção de uma arma atômica. A nação xiita é signatária de um tratado internacional de não proliferação de armas nucleares, o que significa que a tecnologia seria utilizada apenas para fins pacíficos.
Ainda que funcionários da Casa Branca sustentem que o ataque foi uma ação de precisão contra o programa nuclear iraniano (e lido por analistas como uma medida para forçar Teerã a voltar para a mesa de negociações para assinar um acordo que pode as ambições nucleares dos aiatolás), Trump parece flertar com a possibilidade de uma mudança no regime.
“Não é politicamente correto usar o termo ‘mudança de regime’, mas se o atual regime iraniano não é capaz de TORNAR O IRÃ GRANDE NOVAMENTE, por que não haveria uma mudança de regime??? MIGA!!!”, escreveu Trump em sua rede social, a Truth, no domingo – MIGA, no caso, é uma adaptação ao lema MAGA (Make America Great Again), frequentemente utilizado pelo republicano, e significa “Torne o Irã grande novamente”.
Nesta segunda-feira, Pahlavi enfatizou que, para que uma transição democrática seja bem-sucedida, as potências ocidentais não devem estender ao regime atual uma “tábua de salvação”. Se isso acontecer, afirmou ele, “haverá mais derramamento de sangue e caos, porque este regime não se submeterá nem se renderá depois de ter sido humilhado. Ele atacará enquanto estiver no poder. Nenhum país e nenhum povo estão seguros, seja nas ruas de Washington, Paris, Jerusalém, Riad ou Teerã; só há uma maneira de alcançar a paz: um Irã laico e democrático”.
O último xá
Antes de serem arqui-inimigos declarados, a relação entre Tel Aviv e Teerã era muito diferente. Sob o reinado do xá Reza Pahlevi, o Irã foi um dos primeiros a reconhecer Israel depois da fundação, em 1948. O Estado judaico representava, afinal, a chegada de mais um contrapeso aos países árabes na região, ainda por cima respaldado por seu grande aliado, os Estados Unidos.
A parceria levou o governo israelense a treinar os trabalhadores agrícolas e as Forças Armadas iranianas em troca de petróleo. Tudo mudou em 1979, quando o aiatolá Ruhollah Khomeini chegou ao poder e instalou o regime baseado no islamismo xiita, rival dos sunitas que predominam na região.
O novo governo imediatamente elegeu Washington, patrocinador do xá deposto, como o “Grande Satã” — 52 americanos foram mantidos reféns na embaixada em Teerã por mais de um ano — e Israel, seu parceiro, como o “Pequeno Satã”, prometendo varrer o país do mapa. Quase cinco décadas depois daquela ruptura, a diplomacia reflui enquanto mísseis seguem cortando o horizonte de Israel e Irã.