As forças de segurança da Nigéria invadiram e vasculharam ao menos duas das redações do jornal Daily Trust e prenderam dois de seus jornalistas, alegando a publicação de “notícias imprecisas” sobre a ação do grupo extremista Boko Haram.
O editor do Daily Trust, Uthman Abubakar, e o repórter Ibrahim Sawab foram presos na redação localizada em Maiduguri, no nordeste do país, enquanto a sede da publicação, em Abuja, foi revistada por soldados. Há relatos de invasões policiais também na redação do jornal em Lagos, a maior cidade nigeriana.
“O ataque foi uma resposta à reportagem informando haver uma preparação militar para retomar a cidade de Baga, que foi dominada pelo Boko Haram na última semana”, afirmou uma fonte do jornal. “Eles procuravam o repórter Hamza Idris, que escreveu a reportagem. Mas, como não o encontraram, prenderam outros dois jornalistas”, declarou outra pessoa, que pediu anonimato.
Armados, os policiais apreenderam telefones e laptops de todos os jornalistas presentes em Maiduguri e fecharam a redação temporariamente. “Eles retiraram as pessoas e fecharam o prédio, o que significa que amanhã não estaremos nas bancas pela primeira vez em 20 anos”, disse outra fonte.
Garba Shehu, porta-voz do presidente nigeriano, declarou no Twitter que “o governo ordenou que os militares deixassem as instalações do Daily Trust, e a ordem foi cumprida. As questões entre os militares e o jornal, como afetam a cobertura da guerra no nordeste, serão resolvidas por meio do do diálogo”.
Além da invasão e das prisões em Maiduguri, a edição online do jornal publicou fotos da abordagem de policiais à sede, em Abuja. Operações similares prosseguiram em Lagos.
O Daily Trust informou, no dia 31 de dezembro, a tomada de seis cidades no norte da Nigéria pelo Boko Haram, incluindo Baga. A notícia contraria o discurso público do Exército nigeriano, que afirma não haver controle de nenhuma cidade da região pelo grupo terrorista.
Em contato com a rede Al Jazeera, o Exército nigeriano declarou ter tomado medidas contra “notícias imprecisas” e “a divulgação de informações militares, enfraquecendo a segurança nacional”. As forças armadas negam que prenderam os jornalistas “para silenciar a imprensa”, mas para que “percebam a importância da Força Nacional”.
Soldados realizaram operações semelhantes na sede do mesmo jornal em 2013, em uma tentativa fracassada de prender o repórter Hamza Idris por outra reportagem considerada crítica sobre os conflitos com o Boko Haram. O Exército alegou a época que números “irreais” foram divulgados sobre os confrontos.
O Boko Haram luta para impor um Estado islâmico na Nigéria, país de maioria muçulmana no norte e predominantemente cristão no sul, a região rica em petróleo. Segundo a Organização das Nações Unidas, mais de 20.000 pessoas morreram desde o começo da insurgência jihadista, em 2009, e cerca de 1,6 milhão de pessoas se viram forçadas a deixar seus lares.
(Com EFE e AFP)