Em meio aos destroços da guerra, surgiu a elegância de um homem de 70 anos sentado em sua cama, com um cachimbo nos lábios enquanto ouve sua música favorita. O momento foi capturado de forma espontânea pelo fotógrafo Joseph Eid, da agência AFP, durante uma reportagem sobre os seis anos do conflito na Síria.
Uma vitrola chamou a atenção do produtor de vídeo que fazia parte da equipe de Eid. Questionado sobre o objeto, o sírio disse que como o aparelho não precisa de energia elétrica, ele o utilizava para ouvir suas músicas favoritas e tocou uma delas.
“Ele colocou uma música e disse que não conseguiria ouvi-la sem fumar seu cachimbo. O som começou a tocar, ele se sentou em sua cama e pôs-se a contemplar. Quando eu o vi , parecia que estava relembrando bons tempos e havia esquecido de tudo a sua volta. Aquilo me tocou de tal forma que eu precisei tirar aquela foto”, disse Eid em entrevista ao site de VEJA.
Ele perdeu tudo
O homem da foto é Mohammad Mohiedine Anis, conhecido como Abu Omar. O sírio estudou medicina por cinco anos, fala cinco idiomas e morou na Itália, onde traduziu o manual de carros da Fiat do italiano para o árabe. Tudo isso antes de voltar para Aleppo e abrir sua própria empresa de cosméticos, hoje falida.
“Ele perdeu sua casa, sua coleção de carros antigos e a vida que ele conhecia. perdeu tudo. Porém, por fora ele não demonstrava nenhuma fragilidade. Ele estava esperançoso, determinado a começar de novo e sempre falava que nada poderia destruí-lo”.
Abu Omar tem duas esposas e oito filhos. Todos vivem fora de Aleppo, alguns deles na Europa. Entretanto, segundo Eid, Abu Omar não pretende sair da cidade: “Ele disse que quer viver lá, pois sua história, memórias, as coisas que ama e a casa de sua família estão lá. Ele afirmou que irá começar do zero, nada o irá destruir”.
O fotógrafo se surpreendeu com a repercussão da fotografia. Ele acredita que a imagem mostra um novo olhar sobre a guerra na Síria. “Essa foto conta a história da guerra e como o povo sírio se encontra depois de seis anos de conflitos. Alguns se comportam como Abu Omar, permanecem em suas casas, com seus vizinhos, com a esperança de poder começar de novo. Ela mostra a destruição, mas não de um jeito violento”, disse Eid.
“As pessoas estão cansadas de tanta violência e querem ver esperança. A fotografia transmite esse sentimento”, acrescentou.