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França sobre futura invasão ao Brasil: ‘Imaginação sem limites’

Documento militar projeta que, em 2035, Paris vai intervir na Reserva Ianomâmi; Ministério da Defesa diz não ser sua posição

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 7 fev 2020, 17h02 - Publicado em 7 fev 2020, 16h51

Com um indisfarçável tom de sarcasmo, a embaixada da França em Brasília saudou nesta sexta-feira, 7, “a imaginação sem limites dos autores” do documento “Cenário da Defesa 2040”, formulado pelo Ministério da Defesa, que aponta vir desse país a única ameaça militar contra o Brasil. O tom da minuta traz mais acidez para as relações bilaterais, contaminadas pelo episódio dos incêndios na Amazônia em 2019.

“O fato é que o Brasil é nosso principal parceiro estratégico na América Latina e que a França conserva, há décadas, relações de cooperação diárias, estreitas e amigáveis com as Forças Armadas brasileiras”, completou a embaixada francesa, em resposta pelo Twitter.

Como publicado pelo jornal Folha de S Paulo, a minuta sigilosa foi elaborada com base nas visões de 500 entrevistados colhidas em 11 reuniões organizadas pela Escola Superior de Guerra (ESG) no segundo semestre de 2019 para traçar futuros desafios para a segurança nacional. Um dos cenários traçado no documento, segundo a Folha, diz respeito a um pedido da França de intervenção na Reserva Ianomâmi a ser feito em 2035. Dois  anos depois, Paris posicionaria suas Forças Armadas na Guiana Francesa, território ultramarinho francês vizinho do Brasil.

Outras previsões não factíveis, senão espantosas, são a instalação de bases dos Estados Unidos no Brasil e a contaminação do Rock in Rio de 2039 por um surto de coronavírus. A Argentina, potencial fonte de conflito durante a ditadura militar brasileira, aparece como um risco superado.

O documento desconsidera a cooperação estratégica do Brasil com a França no desenvolvimento de submarinos convencionais e da versão a propulsão nuclear. Tampouco há avaliação do grau de conexão econômica entre os dois países, em especial sobre os investimentos franceses em território brasileiro e sobre a corrente comercial de 460 bilhões. “É uma bobageira, coisa de amador. Como a França vai ser confrontacionista se é o maior parceiro estratégico do Brasil na área de defesa?”, avaliou o embaixador Rubens Barbosa, diretor do Instituto de Relações Internacionais e de Comércio Exterior (Irice).

As relações bilaterais sofrem desgastes desde o início do governo de Jair Bolsonaro, que alinhou a política externa brasileira à dos Estados Unidos e adotou uma linha de desprezo às questões de meio ambiente e sustentabilidade particularmente caras à França. Brasília chegou a considerar a retirada do país do Acordo de Paris sobre Mudança Climática e, no episódio dos incêndios na Amazônia, Bolsonaro entrou em choque direto com o presidente da França, Emmanuel Macron, que afirmara ser a região “nosso bem comum”.

Em nota, o Ministério da Defesa afirmou que o documento não reflete sua posição nem a da Escola Superior de Guerra (ESG) e destacou a importância que dá à parceria estratégica Brasil-França na área de Defesa para o século XXI. “Trata-se de trabalho acadêmico, desenvolvido no âmbito de uma escola, que reflete a primeira fase de um estudo preparatório, sendo importante destacar que cenários prospectivos são ferramentas empregadas por qualquer corporação ou país de sucesso e que a liberdade acadêmica é um dos requisitos fundamentais para a excelência de qualquer instituição de ensino de nível superior, como a ESG”, informou.

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