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Francesas contra #MeToo: pela liberdade de dar em cima dos outros

Texto assinado por mais de cem mulheres, dentre elas a atriz Catherine Deneuve, afirma que delações servem aos interesses "dos inimigos da liberdade sexual"

Por Da Redação
Atualizado em 10 jan 2018, 11h49 - Publicado em 9 jan 2018, 20h01
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  • Mais de cem mulheres, dentre as quais a atriz francesa Catherine Deneuve, defenderam nesta terça-feira o direito dos homens darem em cima das mulheres, considerado por elas como “indispensável à liberdade sexual”, em uma carta aberta publicada no jornal francês Le Monde.

    De autoria da escritora Catherine Robbe-Grillet, a carta faz uma crítica às repercussões do caso Harvey Weinstein entre as mulheres. Para as signatárias, houve uma reação passional que levou a um retorno do puritanismo e ao surgimento de “um feminismo que se manifesta como um ódio aos homens e à sexualidade”.

    “O estupro é um crime. Mas a paquera insistente ou desajeitada não é um delito, da mesma forma que o galanteio não é uma agressão machista”, afirma o texto assinado por um coletivo de autoras, atrizes, pesquisadoras e jornalistas. “Hoje, nós somos suficientemente conscientes para admitir que a pulsão sexual é, por natureza, ofensiva e selvagem, mas também somos suficientemente perspicazes para não confundirmos um flerte desajeitado com uma agressão sexual.”

    Mais de 100 mulheres já acusaram Harvey Weinstein de abusos que vão de assédio sexual a estupro, desde que o jornal The New York Times e a revista The New Yorker revelaram sua conduta. O escândalo acabou com a sua carreira. Foi demitido pelo estúdio de cinema que leva seu nome em 8 de outubro do ano passado e responde a vários processos na justiça americana.

    A partir das denúncias envolvendo o produtor, surgiram as hashtags #MeToo (“eu também”, em inglês), a recente versão chinesa #WoYeShi e a versão francesa #BalanceTonPorc (“Denuncie seu porco”), que foram usadas por mulheres de todo o mundo para relatar casos de violência sexual.

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    Para as signatárias da carta, se houve “uma legítima tomada de consciência sobre as violências sexuais cometidas contra as mulheres, principalmente na área profissional”, essa “libertação das vozes” se voltou contra seu objetivo inicial.

    “Essa febre de enviar os ‘porcos’ ao abatedouro, longe de contribuir à autonomia das mulheres, serve na realidade aos interesses dos inimigos da liberdade sexual, dos extremistas religiosos, dos piores reacionários e daqueles que estimam que as mulheres são seres à parte, crianças com aparência de adultos, precisando ser protegidas” afirma o texto, criticando a “campanha de delações”.

    Segundo a carta aberta, os homens envolvidos foram “penalizados no exercício de suas profissões, submetidos a demissões, quando o único erro cometido por eles foi tocar um joelho, tentar roubar um beijo, falar de coisas ‘íntimas’ durante um jantar profissional ou enviar mensagens de conotação sexual a uma mulher que não se sentia atraída por eles”. O texto faz menção à “onda purificadora” que teve como alvo as obras dos diretores Roman Polanski e Jean-Claude Brisseau, ambos condenados por crimes sexuais na França.

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    Roman Polanski
    O diretor de cinema Roman Polanski (Adam Nurkiewicz/Getty Images)

    Em março do último ano, Catherine Deneuve demonstrou apoio a Polanski em uma entrevista à TV. “Sempre achei que o termo estupro era excessivo” disse ela sobre as acusações feitas contra o diretor em 1978.

    A carta aberta foi recebida com críticas por muitas mulheres na França por se colocar na contramão das reações ao escândalo Weinstein. Ségolène Royal, uma conhecida política francesa do Partido Socialista que foi derrotada por Nicolas Sarkozy nas eleições presidenciais de 2006, escreveu em sua conta no Twitter que considerava “uma pena que nossa grande Catherine Deneuve participe desse texto preocupante”.  “Penso neste momento nas vítimas de violência sexual, esmagadas pelo medo de falar sobre o assunto”, afirmou Royal.

    (com AFP)

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