A jornalistas presentes na reunião de chanceleres do G20 no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira, 22, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse que a proposta defendida pelo Brasil para reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas é “muito boa”. O tema é uma das pautas principais defendidas por Brasília durante sua presidência à frente do bloco, que reúne as maiores economias do mundo.
Segundo Borrell, há uma disparidade de poderes e o Conselho de Segurança não é mais “funcional”, à medida que os cinco membros do assento permanente têm poder de veto, mesmo que os demais adotem uma posição a favor de determinada pauta.
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“Não é apenas sobre as instituições, é sobre mudança de mindset. Nosso objetivo é fazer com o que nós temos funcione melhor, não necessariamente criando algo novo”, disse aos repórteres. “E, para isso, quanto mais players tivermos na mesa, melhor. Mudar as regras do que existe hoje é mais complicado”.
O Conselho de Segurança tem lutado para chegar a acordos nos últimos anos sobre questões importantes como a Coreia do Norte, Síria e a guerra em Gaza. Qualquer reforma exigiria uma alteração à Carta das Nações Unidas, o que poderia ser vetado pelos membros com assento permanente, cujos poderes para bloquear resoluções e sanções seriam diminuídos.
A própria ONU reconhece a necessidade de uma reforma. Montado a partir de pedido do secretário-geral António Guterres, um grupo de trabalho composto por ex-chefes de Estado, acadêmicos e especialistas afirmou em relatório em abril deste ano que uma mudança no sistema atual poderia criar mais transparência e confiança nas relações internacionais. O documento afirma que “as vozes dos afetados por conflitos” precisam ser incluídas de forma mais significativa nas decisões do órgão.
Em entrevista às Páginas Amarelas de VEJA, a embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Frawley Bagley, afirmou que o tema foi levantado entre o presidente americano, Joe Biden, e Lula durante encontro recente. “Biden disse que é o momento de expandir o Conselho de Segurança para América Latina, África e Oriente Médio. Eu acho que, a América Latina, as chances estariam com o Brasil, que é o maior país. Mas Biden não disse especificamente qual seria seu escolhido”.
Em relação à guerra entre Israel e o grupo militante palestino Hamas, o diplomata disse ter pedido que o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, seja “porta-voz da solução de dois Estados” e que defenda a questão para o mundo. O conceito prevê a criação de um Estado palestino que coexista pacificamente com o israelense.
“Todos concordam que a guerra deve acabar, mas não concordam sobre como fazer isso (…) Não haverá segurança e estabilidade política para Israel enquanto a Palestina não tiver seus direitos garantidos”, disse.
Apesar do desejo, a reunião dos chanceleres ocorre em meio a uma crise diplomática entre Brasil e Israel, desencadeada por uma fala em que Lula comparou as ações militares israelenses contra os palestinos em Gaza ao Holocausto, que matou mais de 6 milhões de judeus durante o regime nazista de Adolf Hitler. “Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente brasileiro.
O G20
Além do Brasil, compõem o G20 a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além dos blocos União Africana e União Europeia. Juntos, representam cerca de 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e dois terços da população do planeta.
O encontro no Rio também contará com a presença de enviados de países convidados: Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega, Portugal, Singapura, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Mais de 10 entidades também receberam convite, como as Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).