Gastos militares e corrida armamentista têm maior alta desde a Guerra Fria, diz relatório
Disparada bélica ocorre em meio a duas grandes guerras, na Ucrânia e em Gaza, e tensões na Europa

Um novo relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), divulgado nesta quarta-feira, 30, indicou que os países estão se armando na maior velocidade desde 1988, um ano antes da queda do Muro de Berlim e do fim da Guerra Fria (1947-1989). A disparada bélica ocorre em meio a duas grandes guerras, na Ucrânia e em Gaza, e a tensões na Europa.
“Muitos países também se comprometeram a aumentar os gastos militares, o que levará a novos aumentos globais nos próximos anos”, disse o relatório.
O planeta viu um aumento de 9,4% nos gastos militares no ano passado, de acordo com o documento do SIPRI. Os Estados Unidos continuam sendo de longe o maior peso na balança, com quase US$ 1 trilhão destinados à área de defesa. O orçamento americano abrange US$ 48,4 bilhões (mais de R$ 274 bi) em ajuda militar para a Ucrânia, o que representa quase três quartos das despesas de defesa de Kiev, na casa de US$ 64,8 bilhões (cerca de R$ 367 bi).
Além do apoio aos ucranianos, o pacote engloba caças furtivos F-35 e seus sistemas de combate (US$ 61,1 bilhões), navios para a Marinha (US$ 48,1 bilhões), modernização do arsenal nuclear (US$ 37,7 bilhões) e defesa antimísseis (US$ 29,8 bilhões). Depois dos Estados Unidos, vem a China, com investimentos de US$ 314 bilhões, pouco menos de um terço do total dos americanos. Washington e Pequim representam, juntos, quase metade dos gastos militares mundiais do ano passado.
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China x Taiwan
Segundo o relatório, Pequim “revelou diversas capacidades aprimoradas em 2024, incluindo novas aeronaves de combate furtivas, veículos aéreos não tripulados (VANTs) e veículos subaquáticos não tripulados”, acrescentando que “a China também continuou a expandir rapidamente seu arsenal nuclear”.
“O aumento do poder militar da China também influenciou as políticas militares de seus vizinhos, levando muitos deles a aumentar os gastos”, disse Jade Guiberteau Ricard, pesquisadora do Programa de Despesas Militares e Produção de Armas do SIPRI, à emissora americana CNN.
Embora Taiwan tenha aumentado seu orçamento no setor em apenas 1,8% no ano passado, suas despesas militares subiram 48% desde 2015. A China considera a ilha, uma pequena nação insular, parte de seu território e promete retomar o controle do local.
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Israel, Rússia e Otan
Países em guerra também apresentaram um aumento impressionante. Os gastos militares de Israel, que combate o Hamas desde outubro de 2023, dispararam em 65%, ao passo que a Rússia mostrou um crescimento de cerca de 38% nos aportes ao setor. O SIPRI, no entanto, acredita que o número russo seja ainda maior, uma vez que Moscou incrementa os cofres militares com dinheiro de outras fontes.
Membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), principal aliança militar ocidental, aparecem, em peso, no ranking. Entre os países, estão Alemanha (alta de 28% nas despesas com defesa), Romênia (43%), Holanda (35%), Suécia (34%), República Tcheca (32%), Polônia (31%), Dinamarca (20%), Noruega (17%), Finlândia (16%), Turquia (12%) e Grécia (11%).
“O rápido aumento de gastos entre os membros europeus da Otan foi motivado principalmente pela ameaça russa contínua e pelas preocupações sobre um possível desligamento dos Estados Unidos da aliança”, afirmou Ricard.