Depois de cinco meses de atraso nos resultados, Ashraf Ghani foi reeleito presidente do Afeganistão nesta terça-feira, 18. Seu maior adversário, Abdullah Abdullah, rejeitou os resultados por “falta de legitimidade”, gerando uma crise política que pode ameaçar as atuais negociações de paz entre os Estados Unidos e o grupo fundamentalista Talibã.
Com apenas 15% dos votos auditados, o chefe da comissão eleitoral disse que Ghani venceu com 50,64% dos votos, margem estreita que supera o mínimo de 50% necessário para assegurar mais cinco anos de mandato. Abdullah, por sua vez, recebeu 39,5%, segundo o grupo.
Dentre os cerca de 1,8 milhão de votos – um baixo comparecimento às urnas, dado que há cerca de 37 milhões de habitantes no país –, 100.000 cédulas foram registradas no sistema antes ou depois (em alguns casos meses depois) do término do horário de votação, segundo o jornal americano The New York Times. Apoiadores de Abdullah afirmam que esses foram votos fraudulentos plantados para favorecer Ghani.
A comissão eleitoral atribuiu as irregularidades de hora e data do registro de votos a erro humano.
A votação foi realizada em setembro passado, em meio a um número recorde de ataques do Talibã, cujo objetivo era desestabilizar o pleito. Repetidamente adiada, só foi adiante após o presidente americano, Donald Trump, decidir deter as negociações com o grupo fundamentalista.
Agora, apoiadores de Abdullah acusam a comissão eleitoral do Afeganistão de favorecer Ghani e ameaçam formar um governo paralelo se não houver revisão dos resultados. A nova crise política deve por em risco o processo frágil de negociação entre os americanos e o Talibã. Na sexta-feira passada, os Estados Unidos declararam que chegaram a um acordo com o Talibã para reduzir por sete dias a violência no Afeganistão. Se o quase cessar-fogo funcionar, Trump deu sinal verde para a assinatura do acordo de paz, que dará fim a dezoito anos de guerra entre as nações, no próximo dia 28.
Com a disputa política entre Ghani e Abdullah na mesa aumentando as tensões, possíveis negociações entre o governo afegão e o Talibã sobre o futuro político do país parecem ainda mais distantes.