O secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Marcos Galvão, afirmou nesta terça-feira 24 que o governo brasileiro está cobrando da Nicarágua uma investigação sobre a morte da estudante Raynéia Gabrielle Lima e a punição dos responsáveis.A brasileira, de 31 anos, estava no sexto ano de Medicina na Universidade Americana (UAM), em Manágua, e morreu na noite de segunda-feira 23 após levar um tiro no peito dentro de seu próprio carro.“Nós estamos cobrando do governo nicaraguense a apuração das responsabilidades pelo ocorrido e estamos também mobilizados para dar apoio à família e para lidar com essa situação trágica”, disse Galvão a jornalistas enquanto acompanhava o presidente Michel Temer em viagem ao México. “O Itamaraty está completamente mobilizado para tratar deste caso.”A VEJA, a mãe de Raynéia, a aposentada Maria José da Costa, afirmou que ainda não foi contatada pelas autoridades diplomáticas brasileiras e que espera respostas sobre o que aconteceu.Em nota divulgada pelo Itamaraty, o governo brasileiro também condenou “o aprofundamento da repressão, o uso desproporcional e letal da força e o emprego de grupos paramilitares em operações coordenadas pelas equipes de segurança” na Nicarágua.“O governo brasileiro exorta as autoridades nicaraguenses a envidarem todos os esforços necessários para identificar e punir os responsáveis pelo ato criminoso”, cobra o comunicado.O assassinato ocorre em meio a uma crise política no país, instaurada desde abril, quando começaram as manifestações contra a reforma da Previdência proposta pelo governo de Daniel Ortega. O projeto foi abandonado, mas, mesmo assim, os protestos continuaram para pedir a renúncia do presidente.Os últimos relatórios de organizações humanitárias locais e internacionais mostram que a repressão governamental aos protestos já deixou mais de 351 mortos, mas o número foi divulgado há duas semanas e já está desatualizado.O casoDe acordo com a mãe de Raynéia, a estudante saiu do hospital onde fazia residência na noite de segunda e foi até a casa de uma amiga. No caminho de volta para sua casa, foi atingida por um tiro de grosso calibre e bateu o carro em seguida.Ela estava sozinha em seu carro, mas seu namorado a acompanhava em seu próprio veículo logo atrás. Ele a levou para o Hospital Militar, mas a estudante não resistiu e morreu duas horas depois.Raynéia se mudou para a Nicarágua em 2013 com seu marido e os sogros. Ela se divorciou depois de aproximadamente 3 anos no país, segundo seu pai, Ridevando Pereira, explicou a Veja.Os pais ficaram sabendo da morte da filha na manhã desta terça-feira 24, por meio dos ex-sogros.“Desde então, entrei em desespero e só consigo chorar”, diz Maria José. “Ela tinha um sonho de ser médica, que agora acabou. Acabou o meu sonho também."Segundo a enfermeira aposentada, Raynéia voltaria ao Brasil assim que terminasse sua residência, em maio de 2019. “Minha filha era pacata, só estudava, estudava para salvar vidas. E agora tiraram a vida dela”, disse.O reitor da UAM, Ernesto Medina, culpou grupos paramilitares pelo assassinato da estudante. Segundo ele, alguns membros do grupo armado estavam na noite de segunda nas redondezas de onde a estudante morava, ao sul da capital nicaraguense.“As forças paramilitares sentem que têm carta branca, ninguém vai dizer nada a eles, ninguém vai fazer nada, [enquanto] eles andam sequestrando e matando”, denunciou o reitor.