Em um momento crucial para o Brexit, o Parlamento britânico votou nesta quarta-feira, 16, pela continuidade da conservadora Theresa May à frente do governo. A derrubada por 325 votos contra 306 votos da moção de censura a May, apresentada pelo líder oposicionista Jeremy Corbyn, traz a perspectiva de um novo acordo sobre o Brexit ser apresentado nos próximos dias.
A moção de censura fora pedida na terça-feira 15, logo depois do fracasso de May em obter a aprovação do Parlamento ao acordo que firmara com a União Europeia sobre o Brexit. Ela deverá, agora, apresentar até a próxima sexta-feira, 18, um novo acordo à Câmara dos Comuns, cujos termos poderão ser emendados pelos legisladores.
O Brexit, aprovado por um referendo em 2016, deverá se efetivar em 29 de março. Sem um acordo com os europeus aprovado previamente pelo Parlamento britânico, a saída do Reino Unido se dará da maneira mais abrupta possível, sem flexibilidade nem mesmo sobre a delicada questão da fronteira entre a Irlanda e a britânica Irlanda do Norte.
Se a moção de censura tivesse sido aprovada, as eleições gerais poderiam ser antecipadas, e Corbyn teria chances de se tornar o novo primeiro-ministro.
“Estou satisfeita por esta Casa ter expressado sua confiança no governo nesta noite”, afirmou May, logo depois da apresentação do resultado da votação. “Nós vamos continuar a trabalhar sobre a promessa solene que fizemos ao povo deste país de cumprir o resultado do referendo e deixar a União Europeia”, completou.
May prometeu que, na segunda-feira, 21, apresentará ao Parlamento um discurso sobre como levará a questão do Brexit adiante. O líder trabalhista, porém, insistiu que a Câmara dos Comuns rejeitou enfaticamente o acordo fechado por May e a União Europeia e que o governo deverá, agora, afastar a perspectiva de uma saída sem acordo, o que seria catastrófico.
A primeira-ministra estava decidida a começar ainda nesta noite as conversas com parlamentares sobre alternativas viáveis ao acordo sobre o Brexit. Mas boa parte deles rejeitou o convite, como meio de pressioná-la a abandonar suas posições sobre temas sensíveis, como a fronteira entre as Irlandas. nesse tópico, ela negociara com os europeus a preservação temporária do livre comércio como meio de prevenir a retomada das tensões.
May já declarou repetidas vezes que a saída do Reino Unido sem um acordo com os europeus seria uma “catástrofe”. O Parlamento e parte de seu próprio partido, porém, já indicaram em votações anteriores preferir uma ruptura abrupta a uma solução negociada. Investidores e empresários já se preparam para essa alternativa, em 29 de março. Mas o grosso da população ainda não tem noção clara de como a saída do Reino Unido repercutirá em suas vidas.
Antes da votação
A primeira-ministra defendeu a continuidade de seu governo com um discurso incendiário contra Jeremy Corbyn, o líder trabalhista e autor do pedido de voto de censura. May o chamou de “traidor” a “tudo o que” o seu próprio partido defendeu historicamente. Ciente da ambição do trabalhista de ocupar seu lugar, ela afirmou que, como governante britânico, Corbyn trará “calamidade” ao país.
“Este é o líder do partido de Attlee – Clement Attlee, primeiro-ministro britânico de 1945 a 1951 e responsável pela implantação do estado de bem-estar social -, mas ele pediu o desmantelamento da Otan. É o líder do partido de Bevan – ministro da Saúde no governo de Attlee -, mas diz que o Reino Unido deveria se desarmar unilateralmente e cruzar os dedos para que outros sigam seu exemplo”, disse May.
“É o líder do partido que ajudou a chegar ao acordo de Belfast, que convidou os terroristas do IRA ao Parlamento semanas depois de seus comparsas terem assassinado um membro desta casa”, acrescentou a premiê.
(Com EFE)