Governo do Afeganistão anuncia cessar-fogo temporário com talibãs
O presidente Ashraf Ghani, que já chegou a propor um acordo de paz ao grupo, afirmou que a trégua é uma oportunidade de reflexão

O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, anunciou nesta quinta-feira (7) um cessar-fogo temporário ofertado aos talibãs, depois que na última segunda (4), cerca de 2.000 líderes religiosos afegãos pediram ao grupo insurgente que abandonasse a guerra “ilegítima” e aceitasse a oferta de paz do governo.
O cessar-fogo, no entanto, só se aplica aos talibãs. “As forças de defesa e segurança afegãs só param as operações ofensivas contra os talibãs armados e continuarão atacando o Estado Islâmico e outras organizações terroristas com apoio estrangeiro e seus cúmplices”, afirmou Ghani, em mensagem pelo Twitter, após um discurso televisionado.
The Fatwa declared that violence and suicide attacks are not only against Islam but also strictly forbidden in our religion. We also welcome the unprecedented fatwa that only the state can declare jihad thereby rendering violent campaign by any group anything but a holy war.
— Ashraf Ghani (@ashrafghani) June 7, 2018
O presidente afirmou que o cessar-fogo começará na próxima terça-feira (12) e será encerrado no quinto dia do Eid al-Fitr, festividade muçulmana que marca o fim do mês sagrado do Ramadã, que será realizada no dia 19 ou 20, dependendo da posição da lua.
“Este cessar-fogo é uma oportunidade para que os talibãs reflitam sobre sua violenta campanha, que não está conquistando os corações e mentes dos afegãos, mas está alienando-os de sua causa”, disse Ghani.
With the ceasefire announcement we epitomize the strength of the Afghan government and the will of the people for a peaceful resolution to the Afghan conflict.
— Ashraf Ghani (@ashrafghani) June 7, 2018
O presidente apresentou a trégua unilateral como a “personificação” do desejo dos afegãos de encontrar uma resolução pacífica para o conflito armado no país.
Em fevereiro, o presidente apresentou uma ambiciosa oferta de paz ao grupo, que incluía seu reconhecimento como partido político ou a libertação de presos. Este novo anúncio de Ghani chega após um decreto religioso ou fátua em que clérigos islâmicos pediam aos talibãs que encerrassem o conflito.
No decreto, classificado hoje como “histórico” por Ghani, cerca de 2.000 líderes religiosos asseguram que a guerra no Afeganistão é “ilegítima e não tem nenhum tipo de justificativa religiosa”.
O talibã ainda não respondeu à proposta de Ghani.
O ex-general do exército afegão Atiqullah Amarkhel disse que o cessar-fogo daria ao talibã a chance de se reagrupar. “De uma perspectiva militar, não é uma boa jogada”, afirmou à Reuters.
Ele também disse duvidar que o grupo deponha as armas e negue a si mesmo a oportunidade de lutar durante o mês sagrado do Ramadã, no qual os ataques se intensificam.
O Afeganistão permanece em uma situação estagnada de conflito após o final da missão militar da Otan no país, que inicialmente facilitou um avanço militar dos talibãs. O Estado controla cerca de 56% do território, enquanto os talibãs controlam em torno de 11% segundo fontes americanas.
(Com EFE e Reuters)