Governo espanhol aprova exumação de restos mortais de Francisco Franco
Mausoléu onde ditador está enterrado é considerado único monumento a um líder fascista ainda existente na Europa
O governo da Espanha aprovou nesta sexta-feira 24 um decreto para exumar o corpo do ditador Francisco Franco de um mausoléu no Vale dos Caídos, nas proximidades de Madri, com o objetivo de transformar o local em um memorial para as vítimas da guerra civil espanhola.
A vice-presidente do governo, Carmen Calvo, confirmou hoje após a reunião do gabinete que a exumação de Franco, que governou a Espanha entre 1939 e 1975, será feita mediante uma modificação da Lei de Memória Histórica de 2007, com a previsão de que todo o procedimento esteja terminado “no fim do ano”.
Críticos consideram o Vale dos Caídos, assinalado por uma cruz de 152 metros de altura instalada na encosta de uma montanha perto de Madri, o único monumento a um líder fascista ainda existente na Europa.
O decreto diminui o risco de contestações legais que impediriam a exumação dos restos de Franco, inclusive de parte de seus descendentes.
A medida precisa ser aprovada pelo Parlamento. O primeiro-ministro Pedro Sánchez só tem um quarto das cadeiras na Casa, mas é improvável que o pedido seja rejeitado.
“Só os restos mortais de pessoas que morreram em resultado da Guerra Civil Espanhola ficarão no Vale dos Caídos”, disse a vice-premiê, Carmen Calvo, em uma coletiva de imprensa.
O decreto aprovado hoje dá voz à família Franco para que decida para onde quer transferir os seus restos mortais e, caso que não se pronunciem ou se neguem a fazê-lo, o próprio governo deverá decidir seu destino definitivo.
“Tudo com as garantias legais”, ressaltou Carmen, que insistiu no “caráter urgente” desta exumação e que “não se pode perder nem um só instante” para realizar essa tarefa.
Os descendentes do “generalíssimo” são contrários à medida, mas a vice-premiê explicou que o governo está preparado para todas as eventualidades.
Franco exerceu o poder na Espanha de 1939 até sua morte em 1975 e supervisionou pessoalmente a construção do Vale dos Caídos, da qual participaram presos políticos, em especial os que lutaram pela República. Durante seu governo, dezenas de milhares de pessoas foram mortas ou aprisionadas em meio a uma campanha para acabar com a dissidência.
O lugar conta com uma abadia beneditina, uma basílica e um enorme ossário onde estão os restos de mais de 30.000 republicanos e franquistas mortos durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
No local também está enterrado José Antonio Primo de Rivera, líder da Falange Espanhola, um movimento de inspiração fascista dos anos 1930.
(Com Reuters e EFE)