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Governo militar do Sudão admite abusos cometidos em ataque contra civis

Forças do Conselho Militar invadiram um acampamento de manifestantes na capital Cartum, matando mais de 100 pessoas e estuprando outras 70

Por Da Redação
14 jun 2019, 17h28
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  • Integrantes do Conselho Militar do Sudão admitiram que suas forças de segurança cometeram abusos ao atacar um acampamento de manifestantes em Cartum, no início do mês.

    O porta-voz do Conselho que lidera o governo interino sudanês disse que uma investigação sobre as denúncias já foi instaurada e afirmou que várias autoridades militares já foram presas pelas “violações”.

    O general Shams Eddin Kabashi não entrou em detalhes sobre estas supostas investigações durante a entrevista, cedida na noite de quinta-feira 13, se limitando a dizer que os crimes são “dolorosos e ultrajantes” e rejeitando os pedidos de intervenção internacional no assunto.

    Mais de 100 civis foram mortos em um ataque a um acampamento de manifestantes na segunda-feira 3, quando paramilitares das Forças de Apoio Rápidas (RSF) executaram diversas operações para oprimir protestos na capital sudanesa.

    O número de vítimas pode ser ainda maior, já que muitos dos corpos foram jogados no rio Nilo em uma tentativa de encobrir a extensão do massacre. Outras centenas de pessoas ficaram feridas na série de espancamentos e abusos sexuais. Um levantamento de médicos de Cartum estimou que pelo menos 70 civis, entre homens e mulheres, foram estuprados durante o ataque.

    Os militares do Sudão assumiram a liderança do país em um golpe no dia 11 de abril, destituindo o ditador Omar al-Bashir, alvo de grandes protestos contra sua autocracia de três décadas.

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    Logo depois, os manifestantes tomaram uma área em frente ao Ministério da Defesa, onde começaram novos atos exigindo que os militares entregassem imediatamente o poder aos civis. Em resposta, o conselho interino afirmou que pretendia realizar eleições democráticas, mas apenas dentro de três anos.

    As negociações entre o conselho militar e a aliança dos grupos de oposição sobre o controle deste processo transitório foram encerradas depois que os agentes das Forças Armadas reprimiram violentamente o acampamento no dia 3.

    Em resposta às mortes, uma greve geral de dois dias parou o Sudão no início desta semana, antes de ser interrompida pelos próprios líderes da oposição popular.

    A decisão de interromper a paralisação nacional dividiu os grupos civis. Em entrevista ao Guardian, Ahmad Mahmoud, morador de Cartum que participou dos protestos, defendeu que a desobediência civil deveria continuar até que os militares desistissem de continuar no poder.

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    “As pessoas aderiram à greve com esta ideia e do nada eles mudaram de ideia”, disse, criticando os líderes do movimento.

    Violação antiga

    Entidades de defesa dos direitos humanos temem que a violência no Sudão seja ainda mais generalizada, ficando escondida em regiões mais remotas do país. A Organização das Nações Unidas (ONU) já confirmou na quinta-feira que 17 pessoas foram assassinadas e mais de 100 casas queimadas na vila Deleij, na cidade de Darfur, no começo desta semana.

    A Anistia Internacional (AI) também disse ter encontrado novas evidências de que “as forças do governo sudanês, incluindo as RSF e milicias aliadas, continuam a cometer crimes de guerra e outras graves violações dos direitos humanos em Darfur.”

    Pelo menos 45 vilas do Sudão foram parcialmente ou completamente destruídas neste último ano, ainda segundo a Anistia. “Em Darfur, assim como em Cartum, fomos testemunhas da brutalidade desprezível das Forças de Apoio Rápidas contra os civis sudaneses. A única diferença é que em Darfur eles cometem estas atrocidades impunemente há anos”, afirmou o secretário geral da AI, Kumi Naidoo, ao Guardian.

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    Enquanto isso, a internet e a comunicação do Sudão continuam restritas, com os esforços diplomáticos estrangeiros tentando mediar novas conversas entre os militares e a oposição civil.

    Tibor Nagy, secretário assistente dos Estados Unidos para assuntos da África, encontrou-se ontem com o líder do conselho militar, o general Abdel Fattah al-Burhan, em Cartum, e pediu para que ele implemente medidas para retomar as negociações, o que incluiria o fim dos ataques contra civis, a retirada dos paramilitares da capital e o apoio a uma investigação estrangeira sobre o ataque contra o acampamento.

    O porta-voz do conselho interino confirmou a conversa, mas disse que Washington apenas deu “vários conselhos” aos militares. “E eles não são ordens”, enfatizou. Entre os aliados mais poderosos das Forças Armadas sudanesas estão a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, com empréstimos de 3 bilhões de dólares.

    O presidente americano Donald Trump retirou as sanções econômicas contra o Sudão em 2017 mas mantém o país na lista de financiadores do terrorismo, impedindo seu acesso a fundos de ajuda internacional. Washington já deixou claro que não irá mudar o status do país enquanto os militares estiverem no poder.

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