Eram 6h29 da manhã de sábado, 7 de outubro de 2023, em Israel, quando a música trance parou sem aviso. O silêncio foi rompido por gritos na multidão que participava do festival Nova, no remoto Deserto de Negev, onde militantes do grupo palestino Hamas fizeram o mais mortal dos ataques daquele dia, com quase um terço das vítimas totais — que somaram 1 200 mortos, além de 250 sequestrados. Para marcar a data de um ano, centenas de familiares dos mortos, junto com o presidente israelense, Isaac Herzog, se reuniram no local. Quando o sol nasceu, os organizadores tocaram a última faixa que os foliões ouviram antes dos foguetes. Nas ruas de Tel Aviv, familiares de reféns, 100 deles ainda sem paradeiro, caminharam com fotos e cartazes dos desaparecidos. No início do dia, alguns deles marcharam até a residência de Benjamin Netanyahu, tocando uma sirene e pedindo ações de resgate efetivas. Cada vez mais questionado dentro e fora do país pela reação que ordenou contra o Hamas, o premiê limitou-se a gravar uma cerimônia transmitida pela TV. Um ano depois do covarde ataque que ceifou a vida de tantos jovens inocentes, a resposta israelense segue em furiosa escalada. Sem se intimidar, os inimigos devolvem os golpes com chuvas de mísseis na direção de Tel Aviv. O futuro segue incerto. A comunidade internacional exige o cessar-fogo, mas ele parece sumir no horizonte, com a abertura de novas frentes de guerra na fronteira com o Líbano. A paz é uma quimera.
Publicado em VEJA de 11 de outubro de 2024, edição nº 2914