Guerra na Ucrânia: diálogo cada vez mais distante
Vladimir Putin recebeu o secretário-geral da ONU, António Guterres, na mesa gigante do Kremlin, mas o encontro foi improdutivo
Depois de virar persona non grata no Ocidente e passar um bom tempo sem visitas importantes, o presidente russo Vladimir Putin tirou o pó da mesona de 6 metros para receber o secretário-geral da ONU, António Guterres. Foi um encontro improdutivo: nem Guterres “criou condições para um diálogo”, como queria, nem Putin deu esperança de que as negociações de paz, hoje suspensas, levem a algum lugar — segundo o presidente, elas foram abaladas pela “provocação” de se espalhar a notícia “falsa” de que tropas russas teriam praticado massacres na Ucrânia. Fora do mise en scène diplomático, as engrenagens da guerra se apertaram e se ampliaram. De um lado, Moscou, que segue ocupando vilarejos em sua ofensiva na fronteira Leste, suspendeu o fornecimento de gás a Polônia e Bulgária, dois pontos de acolhimento dos milhões de refugiados ucranianos, alegando falta de pagamento em rublos, como agora exige — e deixando no ar a ameaça de impor uma crise energética em toda a Europa, extremamente dependente do combustível fóssil vindo da Rússia. De outro, a Alemanha deu meia-volta em sua até agora cautelosa política de apoio militar e autorizou a entrega de cinquenta tanques à Ucrânia, enquanto os Estados Unidos anunciavam uma nova leva milionária de armamentos. Em paralelo, um acordo firmado entre quarenta nações aliadas vai equipar militarmente as forças ucranianas por prazo indefinido, reforçando a previsão de guerra prolongada. Pelo jeito, bombardeios e mortes continuarão a ter muito mais destaque do que a mesa gigante do Kremlin onde se tenta abrir caminho para a paz negociada.
Publicado em VEJA de 4 de maio de 2022, edição nº 2787