Guerra na Ucrânia se tornará mais ‘imprevisível’, diz inteligência dos EUA
Segundo diretora, imprevisibilidade se dá pelo 'descompasso' entre objetivos de Putin e capacidades militares russas atuais
A comunidade da inteligência dos Estados Unidos acredita que a guerra na Ucrânia deve se tornar “cada vez mais agressiva e com maior escalada” nos próximos meses, afirmou nesta terça-feira, 10, a diretora da Inteligência Nacional americana ao Congresso.
Ao Comitê de Serviços Armados do Senado, Avril Haines afirmou ser difícil prever qualquer cenário em parte porque o presidente russo, Vladimir Putin, “enfrenta um descompasso entre suas ambições e as atuais capacidades militares convencionais da Rússia”.
“No mínimo, acreditamos que a dicotomia dará início a um período de tomadas de decisão com este objetivo, tanto no que diz respeito aos ajustes domésticos necessários para sustentar esse impulso, quanto ao conflito militar com a Ucrânia e o Ocidente”, completou a diretora.
Segundo Haines, a tendência atual aumenta a possibilidade de Putin se virar a “meios mais drásticos”, incluindo lei marcial e reorientação da produção industrial, assim como possíveis escaladas em ações militares para liberar recursos necessários para manter a guerra ativa.
A comunidade da inteligência americana acredita também que Putin está se preparando para um conflito prolongado, e que os objetivos de Moscou se estendem para além da região de Donbas.
Recentemente, o comandante do Distrito Militar Central da Rússia, Rustam Minnekaev, explicitou o objetivo de assumir “controle total” tanto sobre o sul da Ucrânia quanto sobre Donbas, onde se concentram os separatistas pró-Rússia. O controle das áreas criaria um corredor terrestre conectando a Rússia à Crimeia, península anexada por Moscou em 2014, e daria às forças russas acesso à Transnístria, um estado separatista na Moldávia, onde um contingente de forças russas está alocado desde o início dos anos 1990.
A avaliação é compartilhada por autoridades ocidentais e foi ecoada recentemente pelo secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. Segundo o chefe da aliança militar ocidental, a guerra pode durar meses ou anos. No começo de abril, em tom similar, o chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, o general Mark Milley, já havia afirmado que a guerra poderia seguir “durante anos”.
Em discurso na segunda-feira para marcar o improtante “Dia da Vitória”, Putin fez um raro reconhecimento do preço da guerra sobre Moscou. Segundo o líder russo, a morte de cada soldado é uma “peso para todos nós” e prometeu que seu governo faria “tudo para cuidar” das famílias dos mortos. Ele anunciou um decreto para que as famílias dos mortos e feridos na Ucrânia recebessem apoio especial.
As forças russas aumentaram seus ataques no leste e no sul da Ucrânia nos últimos dias, disparando uma enxurrada de mísseis e artilharia na região de Luhansk nesta segunda-feira, embora não tenham conseguido conquistar muitos novos territórios.
As forças ucranianas, reforçadas por mais armas dos Estados Unidos e seus aliados, travaram uma feroz contra-ofensiva no leste que forçou as forças russas a se redistribuírem para a área ao redor da cidade de Kharkiv, impedindo-as de reforçar as operações paralisadas em outros lugares.