Alguns dias depois de a Suprema Corte dos Estados Unidos banir os programas de cotas para ingresso no ensino superior, três grupos de direitos civis apresentaram nesta segunda-feira, 3, uma queixa contra a proeminente universidade de Harvard, alegando que a política preferencial para candidatos da graduação com antigos laços familiares com a instituição beneficia estudantes brancos.
A queixa foi feita ao Departamento de Educação dos Estados Unidos após os grupos alegarem que as preferências da faculdade por candidatos com “legados” violam a lei federal que proíbe a discriminação racial em programas que recebem fundos federais. De acordo com estas organizações, a nova regra tornou ainda mais difícil a entrada de candidatos não brancos.
Na semana passada, os juízes conservadores da Suprema Corte, que dominam a corte por 6 contra 3, concluíram que as políticas de admissão da Universidade de Harvard e da Universidade da Carolina do Norte, que usam critérios raciais para dar uma espécie de “incentivo” a candidatos negros (diferente das cotas numéricas brasileiras), são discriminatórias contra asiático-americanos e violam a cláusula de proteção igualitária da Constituição dos Estados Unidos.
Com base na decisão, representados pela organização sem fins lucrativos Lawyers for Civil Rigths, os grupos de direitos civis argumentam que há um grande golpe nos esforços de criar um ambiente diversificado dentro da universidade. Segundo o diretor executivo da organização, Ivan Espinoza-Madrigal, a Suprema Corte deixou claro que as políticas que desfavoreçam grupos raciais são ilegais. Porém, ele afirmou que o sobrenome de sua família também não deveria influenciar sua admissão em uma universidade.
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“O sobrenome de sua família e o tamanho de sua conta bancária não são uma medida de mérito e não devem influenciar o processo de admissão na faculdade”, disse em comunicado.
Ao longo dos anos, as políticas herdadas, comuns nas faculdades e universidades dos EUA, se tornam cada vez mais controversas. O presidente estadunidense, Joe Biden, afirmou que as instituições deveriam considerar a eliminação dessas políticas porque elas “expandem privilégios em vez de oportunidades”. Outros políticos fizeram comentários semelhantes ao de Biden. Em um tweet, a deputada Barbara Lee, democrata da Califórnia, chamou as políticas herdadas de “ação afirmativa para pessoas brancas”.
A queixa feita nesta segunda-feira aponta que 70% dos candidatos a Harvard com antigos laços familiares são brancos e têm cerca de seis vezes mais chances de serem admitidos do que outros candidatos. Em 2019, 28% da classe que se formava na universidade faziam parte das políticas de legado, significando que menos vagas de admissão estavam disponíveis para candidatos não brancos que têm muito menos probabilidade de terem laços familiares com a escola.