Historiador premiado cancela curso na Universidade Columbia por acordo com Trump
Rashid Khalidi, de 76 anos, é autor de obras premiadas sobre o Oriente Médio e a questão da Palestina

O renomado historiador Rashid Khalidi cancelou nesta sexta-feira, 1, um curso na Universidade Columbia por um acordo da instituição com o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que restringe a liberdade acadêmica. Na semana passada, a faculdade da Ivy League concordou em pagar mais de US$ 220 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhões) à administração e aceitou uma série de concessões para driblar a ameaça de cortes massivos de financiamento federal.
“Embora eu tenha me aposentado, estava programado para dar uma grande palestra sobre esse tópico no outono como ‘palestrante especial’, mas não posso fazê-lo sob as condições que a Columbia aceitou ao capitular ao governo Trump em junho”, escreveu Khalidi em carta à reitora interina de Columbia, Claire Shipman, publicada no jornal britânico The Guardian
“A capitulação da Columbia transformou uma universidade que antes era um local de livre investigação e aprendizagem em uma sombra do que era antes, uma antiuniversidade, um lugar de medo e aversão, onde professores e alunos são informados de cima sobre o que podem dizer e ensinar, sob pena de sanções severas”, acrescentou o historiador, que também chamou a decisão de “abominável”.
Khalidi, um proeminente escritor sobre a Palestina, afirmou que a universidade optou por aceitar uma definição de antissemitismo que “confunde judaísmo com Israel, de modo que qualquer crítica a Israel, ou mesmo descrição das políticas israelenses, torna-se uma crítica aos judeus”. Ele disse que, com isso, seria impossível abordar a criação do Estado de Israel ou o “genocídio” na Faixa de Gaza com honestidade.
Professor emérito de estudos árabes modernos da cátedra Edward Said na Universidade de Columbia, ele pontuou que docentes e alunos terão de restringir o que falam, numa violação à liberdade de expressão, para fugir do “aparato temível que a Columbia ergueu para punir a fala crítica a Israel e para reprimir a suposta discriminação — que neste momento da história quase invariavelmente equivale simplesmente à oposição a este genocídio”.
Rashid Khalidi, de 76 anos, é autor de obras premiadas sobre o Oriente Médio e a questão da Palestina. Entre elas, estão The Iron Cage: The Story of the Palestinian Struggle for Statehood (2008, sem tradução) e o recém-traduzido Palestina: Um século de guerra e resistência (1917–2017), publicado pela editora Todavia no ano passado.
+ Columbia concorda em pagar mais de R$ 1,2 bi em acordo com governo Trump
Acordo com governo Trump
Segundo o acordo, anunciado em 23 de julho, Columbia pagará US$ 200 milhões ao governo federal ao longo de três anos e US$ 21 milhões imediatamente, para encerrar meia dúzia de investigações abertas por supostas violações de direitos civis movidas pela Comissão de Igualdade de Oportunidades de Emprego dos Estados Unidos. No início do ano, Trump suspendeu temporariamente repasses à universidade, alegando que o campus falhou em reprimir atos e sentimentos antissemitas durante protestos contra a guerra em Gaza.
Além disso, o pacto codifica uma série de demandas do governo Trump, com as quais Columbia já havia concordado em março, incluindo a revisão dos seus processos disciplinares estudantis, a adoção de uma nova definição de antissemitismo e medidas para reduzir “agitação” no campus (na terça-feira, a universidade anunciou que havia disciplinado mais de setenta alunos por participarem de um protesto em maio contra a guerra em Gaza). A instituição também se comprometeu a seguir as leis que proíbem a consideração da raça de candidatos no processo de admissão de alunos e contratação de funcionários.
Em troca, a Casa Branca restabelecerá US$ 400 milhões em fundos federais à instituição. O andamento das medidas será supervisionado por um monitor independente, que fará relatórios de progresso ao governo a cada seis meses. Embora Trump tenha comemorado a vitória, o pacto ficou aquém de algumas das exigência mais restritivas do republicano, como uma reformulação da estrutura de governança da universidade – com supervisão da Casa Branca.
“Este acordo marca um importante avanço após um período de escrutínio federal sustentado e incerteza institucional”, disse a reitora interina da universidade, Claire Shipman. Em uma declaração a ex-alunos em junho, ela havia afirmado que Columbia corria risco, devido aos cortes, de atingir “um ponto crítico em termos de preservação de nossa excelência em pesquisa e do trabalho que realizamos pela humanidade”.