Em 2018, prestes a cumprir uma pena de dois anos de prisão por corrupção, o ex-primeiro-ministro ultranacionalista da Macedônia do Norte, Nikola Gruevski, procurou ajuda diplomática da Hungria para escapar da prisão. O caso lembra em partes o caso revelado nesta semana pelo New York Times de que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria ficado dois dias na embaixada húngara, em Brasília, depois de ter tido seu passaporte apreendido pela Polícia Federal.
O jornal americano NYT revelou na segunda-feira a estadia de Bolsonaro, além de um encontro com o embaixador da Hungria no Brasil, Miklos Tamás Halmai. Assim como o ex-mandatário brasileiro, Gruevski, que pediu refúgio político para o governo da Hungria, também teve seu passaporte confiscado pelas autoridades macedônias. Ele, no entanto, conseguiu elaborar um plano de fuga.
Com a revelação das imagens que mostrava o encontro dos dois, o Itamaraty convocou o embaixador húngaro para prestar esclarecimentos, confirmou um funcionário da pasta a VEJA. Segundo a defesa de Bolsonaro, o ex-presidente foi ao local “para manter contatos com autoridades do país amigo”.
Gruevski comandou o governo de extrema-direita da Macedônia do Norte entre 2006 e 2016 e foi condenado em maio de 2018 por corrupção em um caso envolvendo a compra de um carro de luxo com dinheiro público. Após perder todos os recursos, Gruevski que deveria se apresentar a Justiça em novembro não compareceu na data prevista. Depois de três dias, o político apareceu em Budapeste, capital húngara que fica a 800 quilômetros de Skopje, capital da Macedônia. Em menos de uma semana, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, concedeu asilo político ao seu aliado.
Quase seis anos depois, Gruevski continua vivendo na Hungria. Em 2019, a Justiça húngara recusou o pedido de extradição apresentado pela Macedônia do Norte. Em 2022, o ex-premiê foi condenado novamente pela Justiça de seu país por desvio de verbas do seu partido. Além disso, alguns funcionários do governo húngaro afirmaram que Gruevski não passou pelos procedimentos extremamente restritivos de solicitação de asilo. Na época, Orbán comemorou a chegada de Gruevski afirmando que foi uma “história interessante e emocionante”.
Orbán e Gruevski compartilham várias posições políticas, como oposição à imigração e retórica ultranacionalista. Durante os anos que esteve na liderança, a Macedônia do Norte se afastou de políticas pró-União Europeia e pró-Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), cultivando laços estreitos com a Rússia.