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Igreja Católica faz apelo por diálogo na Bolívia

Bispos bolivianos, em coordenação com a União Europeia e as Nações Unidas, cobraram conversas entre o governo, partidos e representantes da sociedade civil

Por AFP 19 nov 2019, 01h39

Os seguidores do ex-presidente de esquerda Evo Morales realizaram passeatas e bloquearam estradas, nesta segunda-feira 18, para exigir a saída da presidente interina, enquanto a Igreja Católica pedia um diálogo para convocar eleições e pacificar a Bolívia, onde 23 pessoas morreram em quase um mês de confrontos.

“Não temos mais democracia”, grita Carmen, enquanto participa de uma marcha de produtores de folha de coca em Sacaba (centro) impedida de chegar à cidade de Cochabamba, a cerca de 18 km de distância, para protestar contra a presidente Jeanine Áñez, que assumiu o cargo após a renúncia de Morales, em 10 de novembro.

“Já vimos que essa presidente em questão de horas mandou que atirassem balas contra o povo da Bolívia para nos silenciar”, lamenta, referindo-se às nove mortes registradas quando os plantadores de coca tentaram, na sexta-feira, passar por um bloqueio da polícia militar de Cochabamba.

“Não temos mais democracia”, grita Carmen, enquanto participa de uma marcha de produtores de folha de coca em Sacaba (centro) impedida de chegar à cidade de Cochabamba, a cerca de 18 km de distância, para se manifestar contra a presidente Jeanine Áñez, que assumiu o cargo após a renúncia de Morales, em 10 de novembro.

Em La Paz, milhares de camponeses também se manifestaram no centro da cidade, que estava lentamente tentando voltar à normalidade. Enquanto a Praça Murillo, onde estão localizados os gabinetes do governo, ainda é guardada pelas forças policiais.

Enquanto os protestos não cessam, a Igreja Católica pediu diálogo para encerrar uma crise que se tornou mais violenta.

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Os bispos bolivianos, em coordenação com a União Europeia e as Nações Unidas, pediram ao governo, partidos políticos e representantes da sociedade civil que iniciem um diálogo a partir desta segunda-feira para pacificar o país.

“O diálogo é a maneira apropriada de superar as diferenças entre os bolivianos”, disse o secretário-geral da Conferência Episcopal Boliviana, Aurelio Pesoa, em uma coletiva de imprensa, na qual considerou que “realizar eleições transparentes é a melhor maneira de superar as diferenças”.

Os bispos discutem desde a semana passada com o governo interino de Jeanine Áñez e setores ligados a Morales, que renunciou há uma semana e se asilou no México depois que foram desencadeados protestos denunciando fraudes nas eleições de 20 de outubro.

O Movimento ao Socialismo (MAS, de Morales), que é maioria no Congresso, também está tentando reunir grupos legislativos minoritários “para trabalhar, conversar, discutir a situação política e pacificar o país”, anunciou no domingo.

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A ministra da Comunicação, Roxana Lizárraga, acusou nesta segunda-feira Morales de tentar dividir os bolivianos. “O que ele está causando é apreensão. Ele não é um pacificador… ele está nos chantageando”, acusou.

No México, Morales usou o Twitter para fazer suas críticas. “Em vez de pacificação (as novas autoridades) ordenam difamação e repressão contra irmãos do campo que denunciam o golpe de Estado”.

Moradores de El Alto convocaram um ato na vizinha de La Paz a partir dessa segunda-feira para forçar “a renúncia imediata” de Áñez.

Em outra tentativa por acalmar os ânimos, a presidente interina disse no domingo que anunciará em breve a convocação de novas eleições “transparentes”.

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Para essa convocação, seu governo deverá se colocar de acordo com o partido de Morales já que, segundoa Constituição, o Congresso é o encarregado de eleger seis dos sete titulares do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE).

Os membros anteriores dessa instituição estão em prisão preventiva por irregularidades nas eleições presidenciais de outubro, que deram a reeleição a Morales, mas que ele mesmo anulou horas antes de renunciar.

– EUA elogiam expulsão de cubanos –

Os Estados Unidos elogiaram a Bolívia nesta segunda pela expulsão de centenas de funcionários cubanos de seu país, em uma mudança da diplomacia boliviana após a saída de Morales.

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O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, disse em coletiva de imprensa que o governo interino da Bolívia, encabeçado pela ex-senadora Jeanine Áñez, fez “o correto” na sexta ao iniciar a repatriação de mais de 700 cooperantes cubanos.

“Isso era o correto. Cuba não estava enviando médicos e funcionários à Bolívia para ajudar o povo boliviano, mas para apoiar um regime pró-Cuba encabeçado por Evo Morales, que se propôs a se manter no poder através da fraude eleitoral”, opinou Pompeo.

“A Bolívia agora se une ao Brasil e ao Equador em reconhecer a ameaça cubana à liberdade. Em cada caso, esses governos livres de interferência externa agiram para proteger sua própria soberania nacional e defender seus próprios interesses cidadãos. Bravo, Bolívia”, declarou.

“Grupo criminoso”

O governo boliviano denunciou nesta segunda-feira a existência de um “grupo criminoso” que planeja um atentado contra a vida da presidente interina, Jeanine Áñez, que suspendeu uma atividade oficial na região amazônica de Beni.

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“Identificamos um grupo criminosos que quer atentar contra a presidente, por isso hoje tivemos que cancelar sua viagem à sua terra natal” na cidade de Trinidad, capital de Pando, disse em coletiva de imprensa, o ministro de Governo, Arturo Murillo.

Sem dar mais detalhes, informou que os órgãos de inteligência ainda estão processando a informação e que “há gente, claro, venezolana, cubana, colombiana metida nisso” e que “o narcotráfico está por trás”.

As manifestações mais violentas se concentraram nos últimos dias em Cochabamba (centro). Ali, camponeses cocaleros entraram em choque na sexta-feira com o Exército e a Polícia, com um saldo de nove mortos, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que elevou para 23 o saldo de vítimas desde o começo da crise.

Para pressionar mais, seis sindicatos cocaleros do Chapare, reduto de Morales em Cochabamba, exigiram na noite deste sábado “a renúncia da autoproclamada” Áñez “em um prazo de 48 horas” e pediram ao Legislativo aprovar uma lei “que garanta as eleições nacionais em um prazo de 90 dias”.

Os bloqueios de rodovia pelas manifestações em várias regiões começaram a gerar desabastecimento de comida e combustível em La Paz.

Para enfrentar a situação, o governo decidiu importar 100 caminhões de gasolina e diesel de Chile e Peru e enviou 60 toneladas de carne e frango à cidade. Além disso, tenta dialogar com aqueles que bloqueiam a estrada que une La Paz com uma importante refinaria, onde instalou um cerco militar dissuasivo.

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