Imagem da semana: o piscinão de Wuhan
Aglomerados e sem máscara, dezenas de milhares de jovens curtiram um festival de música tecno dentro d'água
A fotografia ao lado parece ter sido feita em um dia qualquer da vida como era antes da pandemia, lá atrás. Aglomerados e sem máscara, dezenas de milhares de jovens curtem um festival de música tecno dentro de uma imensa piscina. A separá-los, boias de borracha e nada mais. Mas não, a imagem não é antiga — foi feita no sábado 15, no Maya Beach Water Park, em Wuhan, na China, o epicentro da disseminação do novo coronavírus. Primeira cidade a implementar as medidas de isolamento social, Wuhan teve 76 dias de quarentena rigorosíssima entre janeiro e abril. Com 11 milhões de habitantes, seu perímetro urbano foi totalmente isolado do resto da China e 90% da população foi testada. Deu certo, pelo jeito. Desde maio não há registro de casos da doença. Debruçadas em estatística confiável, as autoridades puderam determinar descompressão quase total, incluindo a normalização dos serviços de transporte público, entretenimento, comércio e turismo. Não há mais sequer restrição para multidões, como se vê. Tudo muito saudável, e esperançoso, para o resto do mundo — mas a megafesta de Wuhan sofreu críticas severas nas redes sociais, em evidente processo de “cancelamento”. Para renomados epidemiologistas, mesmo que o rigor de controle, debaixo da sanha autoritária chinesa, tenha livrado os cidadãos da circulação do vírus, basta um forasteiro infectado para introduzi-lo de volta ao ambiente. Foi o que aconteceu, por exemplo, na Nova Zelândia, que não teve contágio doméstico por noventa dias, mas agora enfrenta uma ressurgência da síndrome. A OMS, porém, evitou condenar a farra. “Não devemos culpar as pessoas por quererem viver sua vida”, disse a epidemiologista Maria van Kerkhove, do Programa de Emergência em Saúde da entidade. “Só precisamos ter a certeza de que a informação está chegando, principalmente aos jovens e às crianças. Eles não são invencíveis.” Depois de período tão difícil, Wuhan merece realmente festejar. Mas é de bom-tom manter a prudência.
Publicado em VEJA de 26 de agosto de 2020, edição nº 2701