Imagem da semana: Uma fila de respeito no velório de Rosalynn Carter
Lá estavam, em fila, em um único lugar, todas as primeiras-damas vivas

Entre 1977 e 1981, durante o mandato do presidente democrata Jimmy Carter, sua mulher, Rosalynn, reinventou o posto de primeira-dama — ao participar de reuniões decisivas, ao viajar para países de ridículos tiranos da América Latina, ao defender com ênfase os direitos humanos, ela subiu a régua. Teve, portanto, imensa relevância na luta das mulheres contra a misoginia, embora muita estrada ainda precise ser percorrida. A própria Rosalynn, sem falsa modéstia, diria: “O papel da primeira-dama mudou. Acho que nunca haverá outra primeira-dama que seja apenas anfitriã e sirva chá na Casa Branca”. Não por acaso, seu velório, em uma igreja metodista de Atlanta, na Geórgia, foi um aceno ao reverenciado pioneirismo. Lá estavam, em fila, em um único lugar, todas as primeiras-damas vivas. Pela ordem, tal qual foram postadas nos assentos, da mais recente para a mais antiga: Melania Trump (que nunca, nunca deu as caras, na gestão do marido), Michelle Obama, Laura Bush e Hillary Clinton. Todas discretas, dado o momento, mas naturalmente atentas a um outro recorte: sabem ser personagens que, para além do que dizem, atraem a curiosidade pelo que vestem, como aparecem. E, também nesse aspecto, a cerimônia foi simbólica. Melania vestia um sobretudo Dior cinza. Michelle, de cabelos presos, sem as amarras dos tempos duros de Washington. Hillary, com o terninho que virou marca registrada. Laura, com o colar de pérolas que a distinguia. Foi uma reunião histórica, sob qualquer ponto de vista. Ou, como disse Jason, neto dos Carter — ao lado do avô, em cuidados paliativos, mas que compareceu ao adeus de Rosalynn: “Eis aqui uma irmandade notável”.
Publicado em VEJA de 1º de dezembro de 2023, edição nº 2870