A notícia da demissão do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, é destaque em diversos meios de comunicação internacionais nesta sexta-feira, 24. Segundo o jornal americano The New York Times, a decisão do ex-juiz da Lava Jato “causa tumulto” no governo brasileiro.
“A renúncia provocou um alvoroço político no Brasil, o maior país da América Latina, que, como outros, está lutando contra a pandemia de coronavírus, enquanto Moro acusava o presidente de tentar corroer a autonomia da Polícia Federal e colocá-la a serviço de seus ambições políticas”, diz a reportagem.
Ao anunciar sua demissão nesta sexta, Moro disse que avisou o presidente Jair Bolsonaro que a interferência no comando da Polícia Federal seria política e que o problema não é “alguém que entra, mas quem entra”. Ele lembrou também que o presidente lhe deu carta branca quando ele decidiu assumir o posto.
O jornal britânico The Guardian foi um dos primeiros a noticiar a renúncia fora do Brasil. Segundo o periódico, a “saída do poderoso juiz enfraquece o presidente”. Na reportagem, Moro ainda é descrito como “ministro estrela”, “celebridade” e “heroi para grande parte da direita brasileira e uma figura de ódio para muitos da esquerda”.
Já o argentino Clarín destacou que a decisão de Moro “chocou o país, indignou os apoiadores do próprio governo e, novamente, provocou protestos em forma de panelaços em várias cidades, exigindo a saída do presidente”. O jornal ainda afirma que a notícia elevou o dólar a um valor histórico e derrubou ações.
O também argentino La Nación afirmou que o governo de Bolsonaro perdeu um de seus mais importantes pilares e o político mais popular do país. “A intromissão do presidente na condução da PF, principal órgão que investiga a corrupção e o crime organizado, provocou a saída”, diz o jornal.
A debilidade do governo brasileiro foi tema principal do artigo do jornal espanhol El País sobre a renúncia de Moro. De acordo com o veículo, a saída da “peça mais preciosa do governo Bolsonaro é um duro golpe para o presidente já enfraquecido”.
Destacando os “confrontos frequentes” entre os setores tecnocrático, militar e ideológico da gestão, o jornal afirma que o Jair Bolsonaro está isolado politicamente – principalmente depois de ministros e governadores unirem-se contra ele a favor das medidas de isolamento social para conter a pandemia de coronavírus.
Enquanto isso, o francês Le Monde dá destaque à rivalidade entre o ex-ministro e o presidente. A reportagem lembra que o fato de Sergio Moro ter concordado em se juntar ao governo Bolsonaro havia sido uma “aposta arriscada”. “Mas agora, muitos o veem como um sério candidato às eleições presidenciais de 2022”, diz o Le Monde.
O veículo francês sugere que essa ruptura entre as duas figuras pode favorecer Moro, já que as pesquisas indicam que o juiz é o favorito para um duelo com o atual presidente. Muitos o veem como um “herói” devido ao seu trabalho na Lava Jato, segundo o artigo.
Já a Deutsche Welle relembra o papel de Sérgio Moro na Lava Jato, fazendo com que se tornasse símbolo do combate à corrupção no Brasil. De acordo com o jornal alemão, Moro não poderia fazer seu trabalho como ministro da Justiça sem “autonomia” para a Polícia Federal.
O Público, um jornal diário português, analisa que a exoneração do diretor da Polícia Federal “afasta qualquer hipótese de diálogo futuro com Moro, o principal rosto do Governo no combate à corrupção”, o que leva também a um afastamento do combate à corrupção em si.
Segundo a reportagem, Bolsonaro cometeu um erro ao interferir na Polícia Federal. “A escolha e exoneração do diretor da Polícia Federal é uma competência do Ministro da Justiça e o Presidente interveio na tutela direta do seu ministro, entrando em choque”, afirma.