Há uma guerra fratricida no coração do Partido Conservador do Reino Unido. Elizabeth Mary Truss, a Liz Truss, de 47 anos, secretária de Relações Exteriores, é tratada como “a nova dama de ferro”, em referência a Margaret Thatcher. Rishi Sunak, de 42 anos, foi chanceler do Tesouro. Os dois brigam pelo posto do descabelado primeiro-ministro Boris Johnson, o atual ocupante da casa de número 10 da Rua Downing, de saída depois de sucessivos escândalos em festas inexplicáveis durante a pandemia. A dupla fará uma série de três debates transmitidos pela televisão. O vencedor — e, portanto, o futuro premiê britânico — será escolhido com o voto de 200 000 membros da legenda, em eleição feita por correspondência. O resultado será divulgado em 5 de setembro. Até lá, os ingleses e o mundo saberão um pouquinho mais da dupla de inimigos íntimos. Dado o que disseram diante das câmeras, é possível cravar que são ainda mais conservadores do que Boris, a quem criticaram muito discretamente. Garantem, também, que o estridente companheiro não terá cargo no governo, como ele mesmo andou insinuando. Truss ou Sunak, um dos dois, enfrentará um problema colossal: a maior inflação do país em quarenta anos, de 9,4% , com sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis e dos alimentos, alavancados pela guerra na Ucrânia. Além disso, terão pela frente o baixo crescimento econômico e o descrédito com a política, depois dos estragos promovidos por Boris. Nas pesquisas de opinião pública feitas antes dos encontros diante das câmeras, Truss aparecia na frente, em margem confortável.
Publicado em VEJA de 3 de agosto de 2022, edição nº 2800