O navio-petroleiro britânico Stena Impero alterou, repentinamente, sua rota no Estreito de Ormuz nesta sexta-feira, 19, para o norte, rumando para águas iranianas. Autoridades britânicas alegaram que a embarcação foi capturada pela Guarda Revolucionária Iraniana (IRCC), quase ao mesmo tempo em que a mesma IRCC alegava ser americano o drone abatido pelos Estados Unidos no dia anterior.
Uma segunda embarcação operada por companhia britânica, o petroleiro liberiano Mesdar, também teria sido obrigada a mudar sua rota para o porto de Ras Tanura, na Arábia Saudita, em direção a águas iranianas, informou o ministro britânico das Relações Exteriores, Jeremy Hunt. O governo iraniano não confirmou essa captura.
“Nosso embaixador em Teerã está em contato com o Ministério de Relações Exteriores iraniano para solucionar a situação, e nós estamos trabalhando de perto com nossos parceiros internacionais”, afirmou. “Esses capturas são inaceitáveis. É essencial que a liberdade de navegação seja mantida e que todos os navios possam navegar com segurança e liberdade na região.”
As acusações e correções se acumulam nesta escala de tensões entre os Estados Unidos e o Irã, agravadas desde que o governo de Donald Trump retirou seu país do acordo nuclear com Teerã, em 2018, e impôs novamente sanções econômicas draconianas sobre o regime persa.
A empresa dona do navio, Stena Bulk, disse em um comunicado que “pequenas embarcações não identificadas e um helicóptero se aproximaram (do petroleiro) durante a passagem pelo Estreito de Ormuz enquanto a embarcação estava em águas internacionais”. Em seguida, a companhia perdeu contato com a tripulação, composta de 23 marinheiros.
“Atualmente, estamos sem contato com a embarcação que está se dirigindo para o norte, em direção ao Irã”, informou a Stena Bulk em comunicado. A Guarda Revolucionária justifica a apreensão do petroleiro por ter “violado leis internacionais”.
O anúncio da captura do Stena Impero ocorreu horas depois de a Justiça de Gibraltar, território britânico ao sul da Espanha, declarar que vai prolongar a retenção de um petroleiro iraniano feita em em 4 julho. A embarcação Grace 1 foi confiscada pelas autoridades de Gibraltar sob a suspeita de violação de sanções imposta pela União Europeia a Damasco ao levar petróleo para a Síria.
No início de julho, a Marinha britânica interceptou embarcações da Guarda Revolucionária Iraniana que tentavam abordar um outro navio petroleiro de bandeira inglesa. Na ocasião, o presidente do Irã, Hassan Rohani, disse que a apreensão do Grace 1 em Gibraltar teria “consequências”.
O governo britânico informou que está “avaliando a situação do incidente no Golfo”. A Casa Branca disse que Donald Trump e Emmanuel Macron, presidente da França, conversaram por telefone sobre os esforços atuais para assegurar que o Irã não obtenha armas nucleares.
Drone americano
Na tarde de quinta-feira 18, o presidente americano, Donald Trump informou que a Marinha americana havia abatido um drone iraniano que se aproximava “perigosamente” do navio militar USS Boxer.
“O (USS) Boxer tomou uma ação defensiva contra um drone iraniano que tinha se aproximado a uma distância muito, muito pequena, de umas 1.000 jardas (cerca de 1 km). “O drone foi destruído imediatamente”, disse Trump.
Porém, a Guarda Revolucionária Iraniana divulgou na tarde desta sexta-feira, 19, um vídeo mostrando o drone que teria sido abatido pelos americanos. Conclui, não é iraniano, mas dos Estados Unidos.
O porta-voz das Forças Armadas iranianas, Abolfazl Shekarchi, disse que, “ao contrário do anúncio delirante e infundado de Trump, todos os drones que pertencem à Guarda Revolucionária Iraniana no Golfo Pérsico e no Estreito de Ormuz, incluindo o mencionado pelo presidente americano, retornaram à base em segurança”.
“Nós não perdemos nenhum drone no Estreito de Ormuz nem em outro lugar. Estou preocupado que o USS Boxer tenha derrubado um drone americano por engano”, ironizou o vice-chanceler iraniano, Seyed Abbas Araghchi.
Em junho, o Irã anunciou, e os Estados Unidos confirmaram, o abate de um drone americano no Estreito de Ormuz. Teerã diz que o drone invadiu o espaço aéreo iraniano, enquanto a Casa Branca afirma que ele foi abatido em águas internacionais. Trump chegou a autorizar um ataque em represália, mas recuou no último instante.
As tensões com o Irã vêm numa escalada desde que os Estados Unidos resolveu sair do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), firmado entre Teerã, Washington, União Europeia, Rússia, China e Reino Unido, que visa a limitar a capacidade iraniana de enriquecer urânio em troca da retirada de sanções econômicas.
Desde então, os Estados Unidos restabeleceram as sanções econômicas pré-acordo e impuseram novas restrições, além de terem enviado mais tropas para o Oriente Médio. Como consequência, diversos navios petroleiros foram atacados na região, mas o Irã nega a autoria.
Teerã defende a permanência do acordo e condena a saída unilateral dos EUA, e como forma de pressionar os outros signatários a cumprirem com o JCOPA, começou a enriquecer urânio ameaçando ultrapassar o limite estabelecido pelo acordo. O Irã quer que a União Europeia volte a comprar o petróleo, mas teme sanções americanas.