Irã continua no acordo à espera da reação dos demais parceiros
Presidente iraniano ameaça enriquecer urânio 'como nunca antes' se outros países deixarem o acordo, a exemplo dos EUA
O Irã continuará no acordo nuclear de 2015, depois da retirada dos Estados Unidos, se seus interesses forem garantidos, declarou nesta terça-feira o presidente Hassan Rohani. Caso contrário, avisou, seu país vai enriquecer urânio “mais do que nunca nas próximas semanas”.
“Devemos ser pacientes para ver como os outros países reagem”, disse Rohani em discurso, em referência aos demais signatários do pacto: Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha. O período de negociação, avisou, é “curto”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu aos países signatários do acordo nuclear que sigam cumprindo o pacto.
Por meio de seu porta-voz, Stéphane Dujarric, Guterres declarou-se “muito preocupado” com a decisão tomada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e reiterou que o acordo é uma “grande conquista” da diplomacia e das políticas de não proliferação nuclear.
O presidente iraniano informou ter pedido ao seu ministro de Relações Exteriores, Mohamad Yavad Zarif, que negocie com os países europeus, a Rússia e a China ao longo das próximas semanas.
“Se ao final deste período chegarmos à decisão de que os outros países podem nos dar o que o Irã quer, continuaremos com o acordo e faremos todo o possível pela paz na região”, ressaltou. Se não conseguir seus “objetivos” nem os “benefícios” do pacto, Rohani advertiu que tomará “um caminho muito evidente”.
O caminho evidente, em princípio, seria a retomada do programa nuclear militar, que envolve tanto o enriquecimento do urânio nas gradações necessárias para armas nucleares, como o desenvolvimento de mísseis. Por enquanto, ainda cauteloso, o presidente ordenou à Organização Iraniana de Energia Atômica que esteja preparada para adotar medidas caso seja “necessário”, inclusive para o enriquecimento de urânio.
Rohani declarou que a decisão de Trump foi “inaceitável” e de “guerra psicológica e econômica”, uma vez que o Irã não fez “nada incorreto” e cumpriu “todas suas responsabilidades”. Trump argumentou que o acordo não incluiu nenhuma restrição aos mísseis de Teerã ou à sua influência “maligna” no Oriente Médio.
“O Irã cumpre seus acordos, e os EUA são um país que nunca mantém suas promessas (…) Não fizeram mais que colocar assinaturas vazias no papel”, criticou.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) ratificou em onze ocasiões que Teerã estava cumprindo seus compromissos com o acordo nuclear. O acordo de 2015 limita o programa atômico do Irã em troca da suspensão das sanções.
(Com AP e EFE)