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Irã não quer entregar a caixa-preta ‘danificada’ de avião ucraniano

Mais de um mês depois da queda da aeronave, que matou 176 pessoas, investigadores internacionais ainda não têm acesso aos registros

Por Da Redação
Atualizado em 19 fev 2020, 17h09 - Publicado em 19 fev 2020, 16h42

O ministro da Defesa do Irã, Amir Hatami, disse nesta quarta-feira, 19, que a caixa-preta do avião ucraniano abatido no mês passado em Teerã está “gravemente danificada”. O aparato deverá ser reparado antes de passar por decodificação de peritos iranianos. O ministro das Relações Exteriores, Javad Zarif, disse que Teerã não irá entregá-la a outros países.

Ao sair de uma reunião de gabinete, Hatami declarou que a caixa-preta “está consideravelmente danificada”, mas que já está sendo reparada por empresas do setor de defesa.

A fala de Hatami contradiz a posição de Hassan Rezaifar, diretor no comando das investigações do acidente pela Organização de Aviação Civil do Irã, que alegou ter enviado a caixa-preta à Ucrânia em 18 de janeiro. A falta de transparência de Teerã não é novidade. 

Os governos do Canadá e da Ucrânia pediram investigações sérias e transparentes e solicitaram o acesso à caixa-preta, o que não poderia ser negado por Teerã. A pressão contra o regime começou a aumentar quando fotos do local da queda e um vídeo mostrando o momento em que o avião é atingido por um míssil emergiram nas redes sociais e sugeriam que a aeronave fora alvo de baterias antiaéreas iranianas. Teerã assumiu a culpa três dias depois do bombardeio.

“Temos direito de ler a caixa-preta nós mesmos. Temos direito de estar presentes em qualquer exame da caixa-preta”, disse Zarif. “Caso se espere que daremos a caixa-preta a outros para que a leiam em nosso lugar, isso é algo que definitivamente não faremos.”

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O abate do voo 752 da companhia aérea Ukraine International Airlines (UIA), que decolara de Teerã com destino à Kiev e transportava 176 pessoas, ocorreu na noite em que o Irã estava à beira de um conflito armado com os Estados Unidos.

Na noite do dia 3 de janeiro, o Exército iraniano lançou um ataque de mísseis balísticos contra bases militares que abrigam tropas americanas no Iraque. A ação foi uma retaliação de Teerã pela morte do general Qasem Soleimani em um bombardeio de drones dos Estados Unidos poucos dias antes.

Washington acusava Soleimani de planejar ataques por meio de grupos xiitas contra as forças diplomáticas e militares americanas na região, como o ataque contra o aeroporto internacional de Bagdá, que vitimou um civil americano, e a invasão à embaixada na zona verde da capital iraquiana, em dezembro de 2019.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que a operação militar que levou à morte de Soleimani foi uma ação necessária para evitar um “ataque iminente”. Contudo, um memorando de duas páginas enviadas ao Congresso americano pela Casa Branca dizia que a eliminação do general iraniano foi uma “resposta” a uma série de atentados nos meses anteriores e que pretendia, a médio e longo prazo, “deter o Irã de conduzir novos ataques contra os Estados Unidos e seus interesses”.

A repercussão interna do abate não foi boa para o regime iraniano. Milhares pessoas, taxadas de “inimigos da revolução” pelas autoridades, tomaram as vias da capital e de outras cidades importantes, como Isfahan, para protestar contra o governo.

(Com EFE e Reuters)

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