Irã promulga lei que suspende cooperação com a agência de fiscalização nuclear da ONU
Nova regra estipula que qualquer inspeção futura das instalações nucleares iranianas precisa da aprovação do Conselho Supremo de Segurança Nacional

O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, colocou em vigor nesta quarta-feira, 2, uma lei aprovada pelo Parlamento na semana passada para suspender a cooperação do país com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão de fiscalização nuclear das Nações Unidas.
O Irã já havia ameaçado interromper a colaboração com a AIEA diversas vezes. Agora, acusa a agência de ser parcial e se aliar aos Estados Unidos, além de abrir caminho para os ataques aéreos de Israel – que começaram em 13 de junho, um dia após o conselho da AIEA denunciar Teerã, pela primeira vez em vinte anos, por violar suas obrigações sob o Tratado de Não Proliferação Nuclear, do qual é signatária.
A lei estipula que qualquer inspeção futura das instalações nucleares do Irã pela agência precisa da aprovação do Conselho Supremo de Segurança Nacional de Teerã.
“Estamos cientes desses relatos. A AIEA aguarda mais informações oficiais do Irã”, afirmou o órgão das Nações Unidas em um comunicado.
Na semana passada, de acordo com o veículo estatal iraniano Nournews, o presidente do Parlamento do país disse que a AIEA se recusou até mesmo a condenar o ataque às instalações nucleares iranianas e “colocou sua credibilidade internacional à venda”. O chefe da agência das Nações Unidas, Rafael Grossi, afirmou que escreveu ao ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, para propor uma reunião. Segundo ele, a retomada da cooperação do país com a agência poderia levar a uma solução diplomática para a longa controvérsia sobre o programa nuclear de Teerã.
Avanço do programa nuclear iraniano
Em 2015, um pacto abrangente foi firmado pelos Estados Unidos e outras nações com o Irã, que autorizava o país a manter até 300 quilos de urânio enriquecido a no máximo 3,67% de pureza, limite adequado para fins civis, como geração de energia e pesquisa, mas muito abaixo dos 90% necessários para a fabricação de armas nucleares.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, porém, saiu do acordo unilateralmente em 2018, durante seu primeiro mandato. Segundo analistas, o movimento fez os iranianos acelerarem o avanço de seu programa nuclear, instalando milhares de centrífugas avançadas para enriquecer urânio.
Há duas semanas, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) denunciou pela primeira vez em vinte anos que a nação islâmica violou o tratado de não-proliferação do qual é signatária, três meses após divulgar um relatório alarmante, segundo o qual o Irã já acumula cerca de 275 quilos de urânio enriquecido a 60%.
Esse material poderia ser convertido em grau militar em apenas uma semana e seria suficiente para produzir até meia dúzia de ogivas nucleares — embora a construção de uma bomba funcional, a toque de caixa, deva levar ainda pelo menos um ano. (Teerã nega consistentemente que seu objetivo seja obter uma arma nuclear).
Em seu segundo mandato, Trump voltou a apostar na diplomacia, mas uma nova série de negociações entre o Irã e os Estados Unidos fracassou quando Israel lançou a chamada Operação Leão em Ascensão, que mirou instalações nucleares e capacidades balísticas do Irã, em 13 de junho. O presidente americano, depois de alternar entre ameaçar Teerã e instar o país a voltar à mesa de negociações, se juntou à campanha israelense com ataques diretos ao Irã.
Durante o conflito, mais de 610 pessoas morreram no Irã e 5.300 ficaram feridas. Entre as vítimas estão trinta comandantes militares de alto escalão e catorze cientistas nucleares. (A ONG americana Human Rights Activists, porém, fala em 1.054 mortes e 4.476 feridos.)
Tel Aviv, por sua vez, afirmou que 28 civis israelenses foram mortos por mísseis iranianos. Mais de 3 mil ficaram feridos, 23 gravemente.