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Iraque ordena a suspensão do referendo de independência curda

Primeiro-ministro iraquiano ameaçou "uma intervenção militar" em caso de ameaça dos combatentes curdos peshmergas

Por Da redação
Atualizado em 18 set 2017, 20h06 - Publicado em 18 set 2017, 16h35
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  • A Suprema Corte do Iraque ordenou nesta segunda-feira a suspensão do referendo de independência previsto para 25 de setembro no Curdistão iraquiano até a análise de sua constitucionalidade. “A Corte se reuniu em plenário nesta segunda-feira e revisou as demandas para suspender o referendo no Curdistão e nas regiões. Ao final da deliberação, tomou esta decisão”, informou o tribunal em comunicado.

    “Recebemos várias demandas”, incluindo uma sobre a inconstitucionalidade submetida pelo primeiro-ministro Haider al-Abadi “e, por isso, decidimos que era necessário suspender o referendo”, disse o porta-voz da Corte, Ayas al-Samuk.

    O presidente curdo, Massud Barzani, destacou que o resultado do referendo não levará a uma declaração de independência imediata, e sim ao início de “discussões sérias com Bagdá“, com o objetivo de “solucionar todos os problemas”. Segundo especialistas, a consulta é uma tentativa de pressionar o governo iraquiano para obter concessões, principalmente, sobre petróleo e finanças.

    Depois de afirmar, várias vezes, estar disposto a dialogar com Barzani, Abadi endureceu o tom nos últimos dias e chegou a cogitar “uma intervenção militar”, em caso de ameaça – sobretudo, dos combatentes curdos peshmergas.

    Seu predecessor, Nuri al-Maliki, agora vice-presidente, comparou a independência do Curdistão à criação de um “segundo Israel“, provocando atrito com o vice-presidente do Parlamento curdo, Jaafar Aimenky. “Israel não matou tantos árabes quanto Nuri al-Maliki durante todos os anos que passou no poder”, reagiu.

    Nesse contexto, a Turquia, que denuncia há meses o referendo de Erbil, iniciou nesta segunda-feira um exercício militar na fronteira com o Curdistão. E garante que prosseguirá, em paralelo, com “operações antiterroristas na região fronteiriça”, palco de combates diários entre o Exército turco e os separatistas curdos.

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    Os temores também são crescentes em relação à escalada de violência entre os iraquianos, envolvendo particularmente os peshmergas e as muitas unidades paramilitares espalhadas pelo país e que poderiam disputar as zonas recuperadas das mãos dos extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).

    O influente comandante xiita Hadi al-Ameri, chefe da organização Badr – poderoso grupo paramilitar iraquiano apoiado pelo Irã -, multiplicou recentemente as advertências contra uma “guerra civil”. Hoje, ele visitou a província de Kirkuk, onde as tensões são mais agudas.

    Decisão ‘unilateral’

    No domingo, o Irã ameaçou fechar a fronteira com o Curdistão e acabar com todos os acordos de segurança, que desempenharam um papel importante no combate aos extremistas desde 2014.

    Há vários dias, com a aproximação da consulta popular, diplomatas da ONU, americanos, britânicos, europeus, ou vizinhos, revezam-se na tentativa de fazer Barzani recuar. A ONU propôs que Erbil desistisse da realização do referendo em troca de sua ajuda para negociações conclusivas com Bagdá dentro de três anos. Até agora não recebeu nenhuma resposta de Barzani.

    O secretário-geral da organização, Antonio Guterres, denunciou “uma decisão unilateral” que vai atrapalhar a luta contra o EI, conduzida pelas forças federais iraquianas e pelos peshmergas, apoiados pela coalizão internacional liderada por Washington.

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    Barzani tem dito há meses que cancelará, ou adiará, o referendo apenas se forem oferecidas melhores opções para garantir os direitos de seu povo, severamente reprimido sob o regime de Saddam Hussein, mas que agora desfruta de autonomia. Uma delegação curda é esperada na terça-feira em Bagdá, enquanto o primeiro-ministro iraquiano partiu para a Assembleia Geral da ONU, em Nova York.

    Um povo sem Estado

    Povo de origem indo-europeia, os curdos descendem do povo medo da Pérsia antiga, que fundou um império no século VII a.C.. Em sua maioria muçulmanos sunitas, com minorias não muçulmanas e muitas vezes formações políticas e laicas, os curdos estão estabelecidos em uma área de cerca de meio milhão de quilômetros quadrados. Sem um Estado próprio,  dividem-se entre Iraque, Irã, Turquia e Síria.

    Seu número total varia segundo as fontes, de 25 a 35 milhões de pessoas. A maioria vive na Turquia (12 a 15 milhões, 20% da população do país), seguido do Irã (cerca de 6 milhões, menos de 10%), Iraque (4,69 milhões, entre 15% e 20%) e Síria (mais de 2 milhões, 15%). Existem também importantes comunidades curdas no Azerbaijão, Armênia e Líbano, bem como na Europa, principalmente na Alemanha.

    Situados em zonas do interior, os curdos conseguiram preservar seus diferentes dialetos, tradições e um modo de organização baseado em clãs.

    Curdistão

    A queda do Império Otomano ao final da I Guerra Mundial abriu caminho para a criação de um Estado curdo, previsto pelo Tratado de Sevres, de 1920, que o situava no leste da península turca de Anatolia e na atual província iraquiana de Mossul.

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    Mas após a vitória de Mustafa Kemal na Turquia, os aliados modificaram sua decisão e, em 1923, o Tratado de Lausanne instaurou o domínio da Turquia, Irã, Grã-Bretanha (por Iraque) e França (por Síria) sobre as populações curdas.

    Os curdos, que reivindicam a criação de um Curdistão unificado, são percebidos como uma ameaça à integridade territorial dos países em que estão estabelecidos.

    Conflitos

    Na Turquia, o conflito entre o governo e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) foi retomado em 2015, acabando com as esperanças de uma resolução para essa crise que causou mais de 40.000 mortes desde 1984.

    Confrontos esporádicos opõem as forças de segurança aos rebeldes curdos no Irã, cujas bases de retaguarda estão no Iraque. Após a revolução islâmica de 1979, ocorreu uma revolta curda que foi duramente reprimida.

    Perseguidos pelo regime de Saddam Hussein, no Iraque os curdos se rebelaram em 1991 após a derrota do Exército iraquiano no Kuwait e estabeleceram uma autonomia de fato, que foi legalizada pela Constituição iraquiana de 2005.

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    Na Síria, os curdos sofreram décadas de marginalização e opressão pelo regime por reivindicar o reconhecimento de seus direitos. Eles adotaram uma posição de “neutralidade” em relação ao poder e à rebelião no início do conflito em 2011, antes de aproveitar o caos gerado pela guerra para instalar uma administração autônoma nas regiões do norte do país sob seu controle.

    Divisões internas

    Os curdos, que nunca viveram sob um poder centralizado, estão divididos em vários partidos e facções entre os quatro países. Às vezes transfronteiriços, esses movimentos são antagonistas, em função principalmente dos jogos de aliança com os regimes vizinhos.

    No Iraque, os dois principais partidos curdos travaram uma guerra que deixou 3.000 mortos entre 1994 e 1998. Finalmente se reconciliaram em 2003.

    Extremismo islâmico

    Na Síria, as forças curdas lideram a aliança das Forças Democráticas Sírias (FDS), que combatem o grupo Estado Islâmico (EI) com o apoio de uma coalizão dirigida pelos Estados Unidos.

    Essa aliança lançou, em novembro de 2016, a batalha para expulsar o grupo extremista de Raqa, sua “capital” de fato no norte do país.

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    No Iraque, os combatentes curdos peshmergas também participam na luta contra os jihadistas.

    (com AFP)

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