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Itamaraty critica postura ‘ofensiva’ da Venezuela após chamar de volta embaixador

Regime Maduro convocou Manuel Vadell a voltar a Caracas e chamou diplomacia brasileira de 'mensageira do imperialismo'; Itamaraty fala em 'escalada retórica'

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 nov 2024, 18h43 - Publicado em 1 nov 2024, 15h48

O Itamaraty disse nesta sexta-feira, dia 1º, que as últimas manifestações de autoridades da Venezuela em relação ao Brasil tiveram um “tom ofensivo”, afirmando que medidas como chamar de volta o embaixador venezuelano em Brasília, Manuel Vadell, consistem em uma opção por “ataques pessoais” em substituição à diplomacia.

“A opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e o seu povo”, disse a nota.

A resposta da diplomacia brasileira também vem um dia depois que a Polícia Nacional Bolivariana da Venezuela publicou em suas redes sociais uma foto com a bandeira do Brasil na qual aparece a mensagem: “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”. A imagem também tem a silhueta de um homem que lembra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas o rosto da figura foi escurecido na aparente tentativa de manter sua identidade ambígua.

“Nossa pátria é independente, livre e soberana. Não aceitamos chantagens de ninguém, nem somos colônia de ninguém. Estamos destinados a vencer”, diz a legenda do post.

O que aconteceu

O governo venezuelano chamou Vadell de volta a Caracas na quarta-feira, 30, e convocou o encarregado de negócios do Brasil na capital para “manifestar seu mais firme repúdio às recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras” do governo brasileiro, citando nominalmente o ex-ministro e atual assessor especial Celso Amorim como “mensageiro do imperialismo norte-americano”.

Como a embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira, está fora do país, o encarregado de negócios da embaixada, Breno Hermann, foi convocado pelo governo de Nicolás Maduro. 

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Na linguagem diplomática, convocar um embaixador não significa rompimento de relações, mas representa que há uma tensão ou insatisfação de um governo com o outro.

No documento, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano afirma que Amorim tem emitido “juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e suas instituições democráticas”.

“Tais declarações constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países”, diz o texto.

Eleições na Venezuela

Na terça-feira, Amorim participou de uma audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara para prestar esclarecimentos sobre o posicionamento do país nas eleições da Venezuela, realizadas em 28 de julho deste ano. Segundo ele, Caracas quebrou a confiança do Brasil no processo eleitoral que reelegeu Maduro.

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“No caso da Venezuela, houve uma quebra de confiança dentro do processo eleitoral, algo nos foi dito e não foi cumprido. Não quero personificar, vamos ver como isso evolui”, disse.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro vencedor para um terceiro mandato (2025-2031), decisão ratificada pelo Supremo Tribunal de Justiça, embora sem registros de votação que comprovassem a vitória. Ambas as instituições são acusadas de servir aos interesses do governo.

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Reiterando o apreço pelo princípio de não intervenção na política interna de outros países e o respeito à soberania da Venezuela, o Itamaraty também justificou nesta sexta-feira suas preocupações com as eleições presidenciais na nação vizinha, relembrando que o Brasil atuou como observador do pleito de 28 de julho e foi testemunha dos Acordos de Barbados – nos quais Caracas se comprometeu a realizar uma eleição transparente e a permitir a fiscalização internacional do pleito.

Não cumpriu nem uma coisa nem outra. O processo eleitoral foi recheado de acusações de fraude cometida pelo regime para garantir a reeleição de Maduro, o que levou o governo brasileiro a não reconhecê-lo (e nem ao seu adversário, Edmundo Urrutia González, agora em exílio na Espanha devido à perseguição das instituições chavistas) como eleito.

Escalada de tensões

A declaração do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela segue as duras críticas ao governo brasileiro na semana passada, quando a pasta classificou como “agressão” e “gesto hostil” o veto do Brasil à inclusão do país na lista de parceiros do Brics. Em comunicado divulgado pelo ministro Yván Gil Pinto, a pasta chega a comparar as ações do governo de Luiz Inácio Lula da Silva às da gestão de Jair Bolsonaro.

“Por meio de uma ação que contradiz a natureza e o postulado do Brics, a representação da chancelaria brasileira, liderada pelo embaixador Eduardo Paes Saboia, decidiu manter o veto que Jair Bolsonaro aplicou contra a Venezuela durante anos, reproduzindo o ódio, a exclusão e a intolerância promovidos a partir dos centros de poder ocidentais para impedir, por ora, o ingresso da Pátria de Bolívar nessa organização, em uma ação que constitui uma agressão à Venezuela e um gesto hostil que se soma à política criminosa de sanções que têm sido impostas contra um povo corajoso e revolucionário”, diz o texto.

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Leia a nota na íntegra:

governo brasileiro constata com surpresa o tom ofensivo adotado por manifestações de autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e aos seus símbolos nacionais.

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A opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e o seu povo.

O Brasil sempre teve muito apreço ao princípio da não intervenção e respeita plenamente a soberania de cada país e em especial a de seus vizinhos.

O interesse do governo brasileiro sobre o processo eleitoral venezuelano decorre, entre outros fatores, da condição de testemunha dos Acordos de Barbados, para o qual foi convidado, assim como para o acompanhamento do pleito de 28 de julho.

O governo brasileiro segue convicto de que parcerias devem ser baseadas no diálogo franco, no respeito às diferenças e no entendimento mútuo.

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