Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Japão: os dilemas para recuperar o crescimento

A renúncia do primeiro-ministro Shinzo Abe gera instabilidade política, em um momento crucial, na terceira maior economia do mundo

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Caio Mattos Atualizado em 4 jun 2024, 15h23 - Publicado em 11 set 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Símbolo de segurança e estabilidade no Japão por ter alcançado o feito de permanecer por sete anos e oito meses no poder, depois de um prolongado período em que a duração no cargo não passava de um ano e alguns meses, o primeiro-ministro Shinzo Abe, 65 anos, decidiu deixar a liderança do Partido Democrático Liberal (PDL) — e, por tabela, o comando do governo — um ano antes do previsto, por motivo de doença. “A saúde fraca pode resultar em decisões políticas erradas”, afirmou no discurso de despedida. A troca de poder vai acontecer em um momento crítico para o Japão, hoje uma ilha (na verdade, várias) cercada de problemas.

    A gestão inábil e vagarosa da crise provocada pelo novo coronavírus desagradou a todo mundo (embora a disciplina natural da população tenha mantido o contágio em níveis razoáveis), a recessão que já travava a terceira economia do mundo se agravou exponencialmente e a Olimpíada de Tóquio, esperança de um repique inclusive no ânimo nacional, foi adiada para o ano que vem e corre o risco até de não se realizar. Pressionado por problemas domésticos, o país ainda enfrenta, no plano externo, o furacão hegemônico da China na região e um histórico de ressentimentos com quem seria sua parceira natural, a Coreia do Sul. Nesse contexto, Abe sai de cena com a popularidade em baixa — tem apenas 30% de aprovação —, mas deixa em seu rastro o temor da volta da porta-giratória no cargo mais alto do país e um clima de incerteza que dará trabalho a seu sucessor.

    Japan Eases Lockdown As Coronavirus Cases Continue To Rise
    DISCIPLINA – Metrô de Tóquio: população colaborou, mas ação oficial foi fraca – (Yuichi Yamazaki/Getty Images)

    Uma votação dentro do PDL, limitada aos parlamentares e governadores de províncias, vai eleger na terça-feira 15 o novo primeiro-ministro. Até o momento só três políticos declararam se candidatar para suceder a Abe. O favorito nas apostas é Yoshihide Suga, 71 anos, discreto secretário-geral de gabinete de Abe e seu antigo aliado. No lançamento da candidatura, ele prometeu manter a linha econômica do atual governo, que prioriza o crescimento. “Só uma economia forte garante o bem-estar e a segurança nacional”, afirmou. Em sua gestão, Abe pôs em prática um ousado conjunto de medidas, batizado como “Abenomics”, para tirar o país de duas décadas de estagnação através da expansão dos gastos públicos, de estímulos fiscais, de uma inédita abertura a imigrantes qualificados e do esforço para integrar as mulheres ao mercado de trabalho. O Japão, de fato, passou por uma virada que resultou em 71 meses seguidos de crescimento do PIB. “Por um bom tempo, Abe conseguiu trazer estabilidade à economia e à política do Japão”, diz Toru Yoshida, cientista político da Universidade de Hokkaido.

    Continua após a publicidade

    Nos últimos anos, porém, o rombo nas contas provocado pelas medidas de estímulo foi freando o desenvolvimento — o déficit público equivale hoje a 238% do PIB, o maior entre os países ricos. Para tentar reverter o quadro, o governo aumentou o imposto sobre consumo de 8% para 10%, o que desestimulou ainda mais a economia. Com a pandemia, o país parou de vez, caminhando neste ano para uma contração de 5,8%, a pior desde o fim da II Guerra. “Se a crise persistir, terá de ser posto em prática um duro ajuste fiscal”, diz Takeo Hoshi, da Universidade de Tóquio. Contribui para o cenário pouco luminoso da Terra do Sol Nascente o fato de ter diante de si a obrigação de sustentar a população mais envelhecida do planeta — até implementar o home office foi difícil porque os escritórios, movidos a funcionários de mais idade, são analógicos e dependentes de papel. Com tudo isso, e mais o bafo do dragão chinês no pescoço (expresso na disputa por um punhado de ilhas no Mar do Leste da China), o próximo primeiro-ministro terá um desafio e tanto pela frente.

    Publicado em VEJA de 16 de setembro de 2020, edição nº 2704

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 9,98 por revista)

    a partir de 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.