Javier Milei: Ruim com ele, pior sem ele
Foi com discurso e gestos apoteóticos, bem ao seu estilo, que o autoproclamado “anarcocapitalista” celebrou o resultado da votação de domingo 26
Depois de perder feio a eleição para o Legislativo da província de Buenos Aires em setembro, quando seu partido A Liberdade Avança ficou treze pontos atrás dos peronistas, Javier Milei deu a volta por cima e mostrou que para a maioria dos argentinos, em que pesem as queixas contra o gosto amargo de suas duras medidas econômicas, a conclusão é: ruim com ele, pior sem ele. Foi com discurso e gestos apoteóticos, bem ao seu estilo, que o autoproclamado “anarcocapitalista” celebrou o resultado da votação de domingo 26 para a renovação de metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado. O governo obteve quase 41% dos votos, contra 31,6% da oposição — venceu, inclusive, em Buenos Aires. “Passamos o ponto de inflexão. Hoje começa a construção de uma grande Argentina”, comemorou. No voto nacional, os eleitores relevaram crises e escândalos recentes, incluindo um que implicou a primeira-irmã, Karina Milei, em um esquema de corrupção. O resultado mostrou uma resignação do público com os impactos dos cortes brutais que Milei promove — com apoio de Donald Trump, que às vésperas da eleição lhe passou um cheque de 20 bilhões de dólares. “Ele teve muita ajuda nossa”, gabou-se o americano. Quando o novo Congresso tomar posse, em dezembro, A Liberdade Avança terá deixado de ser um partido nanico, adquirindo condições de, com alianças, blindar vetos e aprovar seu projeto de reformas ultraliberais — receituário econômico ao qual os argentinos resolveram dar seu aval.
Publicado em VEJA de 31 de outubro de 2025, edição nº 2968







