A Itália é o país mais afetado pelo coronavírus no continente europeu, com mais de 20.000 mortes até o momento. Nesta terça-feira, 14, um dos principais jornais do país, o Corrierre Della Serra fez uma análise da postura de dez líderes mundiais no combate à pandemia e deu a nota 2, a mais baixa, ao presidente Jair Bolsonaro, apontado como “o negacionista”.
“Inspirado inicialmente em seu ídolo Donald Trump e atualmente quase isolado do resto do mundo em seu negacionismo, Jair Bolsonaro se depara com uma oposição interna com poucos precedentes na história do Brasil”, escreve o correspondente Rico Cotroneo. A publicação ressalta que os apelos de Bolsonaro para que as pessoas voltem ao trabalho vêm sendo ignorados pela população, que tem seguido as ordens estritas de governadores e do próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que “está sempre à beira de perder o cargo.”
“Por enquanto, Mandetta ainda está lá, também porque as pesquisas dão a ele o dobro de aprovação do presidente em relação ao gerenciamento da crise. Enquanto isso, Bolsonaro sai às ruas e aperta mãos, incitando as pessoas a retomarem suas atividades e, a cada dois ou três dias, lança um apelo contraditório na TV.” O Corriere diz ainda que Bolsonaro vê a cloroquina como “uma cura infalível para a Covid-19” e nega a opinião de especialistas que alertam que maio e junho serão meses terríveis no Brasil.
A maior nota (9) foi para a “empática” primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern. “Assim como na ocasião do massacre da igreja de Christchurch (que matou 51 pessoas em março de 2019), Jacinda demonstrou força, determinação, empatia e independência, que a confirmaram entre os líderes mundiais mais bem-sucedidos e populares.” O Corriere destaca que a Nova Zelândia passou da fase de contenção ao da supressão em dez dias, com medidas eficientes, como isolar por duas semanas quem chegava do exterior ou quem testava positivo e desaconselhar deslocamentos regionais.
A alemã Angela Merkel foi tratada como “confiável” e recebeu nota 8. “Você pode amá-la ou detestá-la, mas uma coisa é certa: Angela Merkel dá o melhor de si em crises. A chanceler tomou o país pela mão, conduzindo-o com calma e determinação pela pandemia”, escreveu um dos correspondentes do Corriere, citando que 80% da população alemã aprova as ações rigorosas de isolamento social adotadas pelo governo.
“Ressuscitado”, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, que recentemente se recuperou de um quadro grave de coronavírus, recebeu nota 7. “O boletim de Boris Johnson deve ser examinado com mais cuidado porque sem dúvida apresenta altos e baixos. No início, Boris se gabava, como de costume, de continuar apertando as mãos em todos os lugares. (…) No entanto, diante das evidências da infecção, ele esteva pronto para voltar atrás e impor o bloqueio. E os britânicos o seguiram: tanto que 70% aprovam como ele administrou a crise.”
O presidente americano Donald Trump recebeu nota 5 por seu perfil “confuso”. “Gere a crise entre contradições e dúvidas. O problema básico é que continua contrastando necessidades econômicas e de saúde.” O jornal diz ainda que as mensagens de Trump tendem a dividir opiniões, sobretudo quando repete o discurso de que “a cura pode ser pior que a doença”
O presidente chinês Xi Jinping é tratado com ironia pelo jornal, que lhe dá “nota 10, segundo Pequim, e 5, para o resto do mundo”. A publicação ressalta que o governo da China, onde a pandemia teve início ainda no fim de 2019, não interveio prontamente e que, apesar da propaganda local tratá-lo como um grande líder no combate à Covid-19, “pesará para sempre contra o presidente a suspeita de que o sistema chinês tenha provocado o desastre”.
O chanceler austríaco Sebastian Kurz (nota 6) foi tratado como “apressado”, o francês Emanuel Macron (7), como “convincente”, o líder irlandês Leo Varadkar (7), “na linha de frente”, e a dinamarquesa Mette Frederiksen (8), como “corajosa”. Já o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, o “contemporizador”, ficou sem nota, pois “primeiro tentou salvar as Olimpíadas de Tóquio e depois escolheu a saída de emergência de transferir as decisões aos governos regionais”.