O responsável pelo vazamento de centenas de documentos ultrassecretos do Pentágono é, segundo reportagem do jornal americano Washington Post, um jovem racista e entusiasta de armas que trabalhava em uma base militar e tentava impressionar, com seu privilegiado acesso aos dados, outros 24 colegas em um grupo de bate-papo na Internet.
O Post entrevistou um adolescente membro do grupo, que possuía fotos e vídeos de “OG”, como o suspeito era conhecido. O jornal americano também teve acesso a um vídeo em que OG está em um campo de tiro com um rifle grande.
“Ele grita uma série de xingamentos racistas e antissemitas para a câmera e, em seguida, dispara vários tiros em um alvo”, disse a reportagem.
Segundo os entrevistados, OG contou aos membros do grupo de bate-papo online que trabalhava em uma base militar, onde sua função lhe dava acesso a grandes quantidades de informações confidenciais. A base onde ele disse ter trabalhado não foi mencionada na reportagem.
Os documentos vazados revelaram segredos sobre os preparativos da Ucrânia para uma contra-ofensiva a partir de abril, a espionagem dos Estados Unidos contra aliados (como Ucrânia, Coreia do Sul e Israel), e as tensões entre Washington e as capitais aliadas sobre o armamento de Kiev.
O vazamento não parece ter sido uma operação de inteligência com o objetivo de tirar credibilidade dos EUA, como foi pensado inicialmente, mas uma possível consequência do Pentágono conceder autorização a tantas pessoas – militares, civis e contratados – para acessar informações ultrassecretas. Cerca de 1,25 milhão de funcionários em todo o governo dos Estados Unidos têm autorização ultrassecreta.
OG era o aparente líder em um servidor, criado em 2020, na plataforma de mensagens Discord por um pequeno grupo de entusiastas de armas e gamers. O grupo tinha vários nomes, mas na maioria das vezes era conhecido como “Thug Shaker Central”.
A partir do ano passado, OG teria postado os documentos em um canal no servidor “Bear vs Pig” (Urso vs Porco), uma referência à guerra na Ucrânia.
Segundo o integrante do grupo entrevistado pelo Post, OG “tinha uma visão sombria do governo”. Para ele, policiais e agências de inteligência eram uma força repressiva e costumava reclamar, ainda, do “exagero do governo”.
A reportagem disse que os detalhes foram confirmados por outros membros do grupo, que deram entrevistas sob condição de anonimato, e que analisou um total de 300 fotografias de documentos secretos, número três vezes maior do que se pensava estar circulando nas redes.
Os vazamentos foram rastreados até o servidor do Discord “Thug Shaker Central” pelo grupo de jornalismo investigativo Bellingcat, que também entrevistou o mesmo adolescente. O Post alertou, no entanto, que o menino ainda não havia sido abordado pelo FBI.
O paradeiro atual de OG é desconhecido. O membro do grupo disse ao Post que ele “parecia muito confuso e perdido sobre o que fazer”.
“Ele está totalmente ciente do que está acontecendo e quais podem ser as consequências”, afirmou. “Ele simplesmente não tem certeza de como resolver esta situação… E parece muito perturbado com isso.”
Em sua mensagem final para seus companheiros de grupo, OG disse a eles para “manterem-se discretos e deletarem qualquer informação que possa estar relacionada a ele”, incluindo quaisquer cópias dos documentos secretos.