O presidente da Assembleia Nacional e autodeclarado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, convocou neste domingo 27 seus apoiadores para dois novos atos contra o regime de Nicolás Maduro. Na semana passada, o líder oposicionista passou a se considerar o chefe do Executivo do país, após gigantescos protestos contra o chavismo tomarem as ruas de diversas cidades.
Ontem, em pronunciamento transmitido ao vivo, Guaidó convocou os venezuelanos para um protesto pacífico na quarta-feira, 30. Durante duas horas, as pessoas devem abandonar suas atividades para ir à rua, pediu o autodeclarado presidente.
Para o sábado, 2, Guaidó quer que os cidadãos façam protestos “em todos os cantos da Venezuela” e do planeta contra o governo de Maduro. O sábado é a data-limite sugerida pela União Europeia para que Maduro convoque novas eleições.
Maduro, no entanto, permanece como presidente, segue ocupando o Palácio de Miraflores e tem o respaldo das Forças Armadas. Guaidó, por sua vez, teve a autoridade reconhecida pelos Estados Unidos, pelo Brasil e por diversos outros países.
Guaidó exige o apoio das Forças Armadas ao seu governo e pede que os militares permitam a entrada de ajuda humanitária no país.
O presidente do Parlamento de maioria opositora recordou que no próximo domingo vence o prazo de oito dias que a UE deu no sábado a Maduro para que aceite eleições livres. Em caso contrário, as potências europeias reconhecerão o líder opositor como presidente interino.
“Estaremos (no sábado) celebrando este respaldo inédito de todo o mundo a nossa causa, mas também contando com que se vence este ultimato dado pela União Europeia para conseguir o fim da usurpação, o governo de transição e a convocação de eleições livres”, completou.
Em uma entrevista ao canal CNN Turk, exibida no domingo, Maduro pediu aos países europeus que retirem a ameaça. “Ninguém pode nos dar um ultimato”, disse.
Mortes nos protestos
Os protestos da semana passada deixaram 29 mortos e quase 350 detidos, de acordo com organizações de defesa dos direitos humanos.
Também neste domingo, Guaidó pediu à alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que visite o país para verificar as mortes atribuídas por ele aos militares que apoiam Maduro.
Ao deixar uma missa em memória de cerca de 30 mortos da semana passada, o opositor pediu à ex-presidente do Chile que observe “o que está acontecendo com nossos jovens assassinados”.
“Que apresse sua visita ao nosso país, para que seja testemunha presencial da grave crise em que vive todo povo venezuelano”, tuitou Guaidó.
Ele também pediu aos militares que não reprimam as manifestações: “Não atirem contra o povo da Venezuela”.
Guaidó também pediu informações sobre “quem está dando a ordem” de “assassinar”.
“Acham que, torturando nosso povo, vão nos intimidar”, disse Guaidó, que pediu uma “reunião de emergência” com ONGs, defensores dos direitos humanos e o Parlamento de maioria opositora para tratar da situação.
Neste domingo, a ONG de direitos humanos Provea denunciou a ação de um “esquadrão da morte”, com ordens para “matar” e privar da liberdade “manifestantes em sua maioria de setores populares”.
Na quinta-feira, Bachelet pediu uma “solução política pacífica” na Venezuela e classificou a situação como “muito preocupante”. A ex-presidente pediu diálogo para evitar mais “mortos e feridos” no país.
Proteção de ativos da Venezuela
Guaidó, disse neste domingo que pediu a vários bancos do mundo a “proteção” dos ativos que o país tem depositados nestas instituições para evitar que o governo de Maduro faça uso destes recursos.
“Fizemos esta solicitação diante dos países do mundo (…), também a instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco da Inglaterra”, disse Guaidó em mensagem divulgada através de suas redes sociais.
“Não permitiremos que sigam roubando o povo da Venezuela”, acrescentou.
Guaidó também disse que a execução desta medida será “acompanhada” do progressivo uso dos recursos por parte do governo interino que se instalou e preside o país sul-americano desde quarta-feira passada.
O governo de Nicolás Maduro iniciou há meses um processo para retirar 31 toneladas de ouro – equivalentes a 1,2 bilhão de dólares – desde o Banco da Inglaterra, em meio à urgente crise política, econômica e social que a Venezuela atravessa.
Guaidó não se referiu de forma específica a estes recursos, mas disse que tudo o que conseguirem controlar será usado para diminuir os efeitos da crise humanitária do país.
(Com AFP, EFE e Estadão Conteúdo)