A Justiça estadual de Nova York decidiu nesta terça-feira, 30, suspender temporariamente a publicação de um livro sobre a relação entre o presidente dos Estados Unidos e sua família. A obra é escrita pela psicóloga Mary Trump, sobrinha de Donald Trump. A defesa do presidente alega que a publicação do livro estaria violando um acordo de confidencialidade de 2001.
O juiz Hal Greenwald, da comarca do condado de Dutchess, emitiu uma ordem de restrição temporária contra Mary e a editora Simon & Schuster, a pedido de Robert Trump, irmão mais novo do presidente e tio da psicóloga.
Robert afirma que o livro, intitulado Demais e Nunca Bastante: Como Minha Família Criou o Homem Mais Perigoso do Mundo, previsto para ser lançado no domingo, 28, desrespeita um acordo de confidencialidade que envolve Mary e o patriarca da família, Fred Trump Sr.
O acordo ao qual Robert se refere foi assinado em 2001 por Mary no contexto da repartição da herança de Fred Trump Sr., que morrera dois anos antes. Segundo esse acordo, a psicóloga não poderia discutir de maneira pública sobre os relacionamentos entre seus tios e tias.
Mary e a editora Simon & Schuster recorreram à ordem de restrição menos de três horas após a sua emissão. Uma nova audiência do caso está prevista para ser realizada em 10 de julho.
O advogado da autora, Theodore Boutrous, chamou a decisão do juiz Greenwald de uma “restrição prévia ao discurso político” e alega que o direito à liberdade de expressão de sua cliente, protegidos pela 1ª Emenda à Constituição americana, estariam sendo “violados categoricamente”.
“Este livro, que trata de assuntos de grande importância pública sobre um presidente em exercício em um ano eleitoral, não deve ser suprimido nem por um dia”, acrescentou Boutrous.
Segundo o site oficial da Simon & Schuster, Demais e Nunca Bastante é um “retrato revelador e autoritário de Donald Trump e da família tóxica que o criou”.
“[O livro] lança uma luz sobre a história sombria da família [Trump], a fim de explicar como [Donald Trump] se tornou o homem que agora ameaça a saúde, a segurança econômica e a sociedade mundial”, conclui.
Mary Trump
Doutora em psicologia pela Universidade Adelphi, no estado de Nova York, Mary é filha de Fred Trump Jr., irmão mais velho do presidente, que morreu no início da década de 1980 por alcoolismo — Trump o menciona recorrentemente quando fala sobre seu voto de não beber álcool e sobre suas políticas de combate às drogas.
Mary é conhecida por criticar o presidente. Logo após a eleição de Trump, em novembro de 2016, a psicologa publicou em seu Twitter que aquele tinha sido o “pior dia de sua vida” e que “temia pelo fracasso do experimento americano”, se referindo provavelmente à democracia liberal.
This is one of the worst nights of my life. What is wrong with this country? I fear the American experiment has failed.
— Mary L Trump (@MaryLTrump) November 9, 2016
A psicóloga também chamou a adversária de Trump naquelas eleições, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, de “um ser humano e servidor público extraordinário”.
Como reporta a revista Forbes, Mary demonstra em seu perfil no Twitter apoiar frequentemente o Partido Democrata e as políticas de controle de armas.
Além de seu posicionamento nas redes sociais crítico ao presidente e ao conservadorismo, a psicóloga teria ainda vazado ao jornal The New York Times documentos financeiros do presidente que foram publicados em uma reportagem premiada com o Pulitzer em 2018 sobre as práticas de evasão fiscal de Trump.
O portal de notícias The Daily Beast afirma que Demais e Nunca Bastante revela os bastidores desse vazamento.
(Com Reuters)