Kamala contava com elas para vencer, mas bolso pesou mais que aborto para as americanas
Antes da ida às urnas, sondagens mostravam que questões econômicas, como inflação e acesso ao consumo, não saiam da cabeça dos eleitores
Não é surpresa que a campanha da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, esperava receber apoio massivo de mulheres. Afinal, a democrata tomou como mote de sua candidatura o direito ao aborto em todo o território americano, revogado após a anulação da decisão judicial “Roe v. Wade” pela Suprema Corte, de maioria conservadora, em 2022.
A expectativa era de que elas compareceriam às urnas em peso na terça-feira, 5, para votar em Kamala. Não foi bem o que aconteceu. O motivo, sugerem as autópsias, seria a preocupação com a economia – terreno no qual Donald Trump ganha protagonismo.
Meses e meses de pesquisas mostravam um embate apertadíssimo entre Harris e Trump. Na véspera da eleição, a média de pesquisas do jornal americano The New York Times colocava a democrata, por pouco, à frente do republicano, em placar de 49 a 48%. O resultado final contrariou as sondagens: o empresário venceu com folga, somando 295 delegados – 25 a mais do que o necessário para levar o pleito, contra os 226 de Kamala.
A estratégia adotada pela campanha democrata parece ter sido insuficiente, e demonstrado uma leitura um tanto errada das prioridades das americanas. O aborto é, sim, uma questão importante para elas, mas não é tudo. É fato que a maioria das mulheres votou em Kamala. Ela, no entanto, perdeu espaço entre duas minorias feminina consideradas cruciais: latinas e mulheres sem Ensino Superior.
“Eleitores — particularmente as mulheres — que se sentem mais sobre o aborto já estão votando nos democratas”, explicou Ross Smith, pesquisador e consultor de campanhas, ao NYT. “O argumento do aborto não penetrou nem um pouco entre as mulheres sem educação superior, não as moveu nem um centímetro. E eles (equipe de Kamala) perderam terreno entre os latinos”.
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Peso da economia
Entre as latinas, o desempenho democrata encolheu 10 pontos percentuais quando comparado à eleição de Joe Biden, atual mandatário. O desempenho foi ainda pior entre mulheres sem diploma universitário, que votaram no republicano por 63-35%, mostraram pesquisas boca de urna.
Antes mesmo da ida às urnas, sondagens mostravam que questões econômicas, como inflação e acesso ao consumo, não saiam da cabeça dos eleitores. Circula, ainda, a crença de que Trump seria o único capaz de colocar a economia de volta aos trilhos – o que seria também um reflexo da nostalgia dos tempos pré-pandemia, suspeitam analistas.
O aborto, por sua vez, segue sendo defendido por uma boa parte da população. Em maio, uma pesquisa da Gallup mostrou que somente um em cada 10 cidadãos dos EUA achava que o procedimento deveria ser proibido.
Para atrair a ala feminina e contrariar a rival, o republicano afirmou no primeiro e único debate contra Harris que não baniria o aborto através de uma lei nacional. No entanto, ao longo da campanha, ele defendeu a liberdade dos estados para definirem suas leis. Sete dos 10 estados onde o aborto estava na cédula votaram a favor do acesso ao procedimento.