Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Lições perigosas da Hungria

Eis um modelo que, definitivamente, é tudo o que o Brasil não quer

Por Maria Laura Canineu
Atualizado em 4 jun 2024, 16h19 - Publicado em 3 Maio 2019, 07h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O deputado Eduardo Bolsonaro, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, retornou da Europa, onde visitou o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán. Eduardo agradeceu a Orbán as lições sobre “trato com a imprensa”. O problema é que os métodos de Orbán com a imprensa são repressivos e inconsistentes com os direitos humanos.

    Sob o mandato de Orbán, a Hungria sofreu um alarmante declínio na liber­dade de expressão e de imprensa. Após vitória esmagadora em 2010, a maioria no Parlamento permitiu que seu partido acelerasse a aprovação de cinco leis repressivas contra a imprensa, no prazo de um ano. Elas obrigaram a imprensa a oferecer cobertura “adequada” de notícias e criaram uma agência única com amplos poderes sobre jornal, TV, rádio e internet. Ademais, impuseram sanções a infrações vagamente definidas, como “ferir” a ordem pública.

    Pessoas próximas a Orbán ou a seu partido agora controlam mais de 500 veículos de comunicação. Para privar de receita a mídia independente, não se coloca nela publicidade estatal, e as empresas privadas evitam veículos dissidentes pelo temor de perder contratos com o governo. O serviço público de TV e rádio virou instrumento de propaganda oficial. Vozes independentes têm de se defender de falsas acusações de difamação e calúnia, e algumas são banidas de coletivas de imprensa do governo.

    Não é apenas a imprensa que Orbán tenta silenciar. Seu governo apresentou novas leis contra ONGs e universidades, além de atacar George Soros, um filantropo nascido na Hungria que apoia movimentos democráticos e grupos de direitos humanos, especialmente os que defendem refugiados e migrantes. As autoridades húngaras têm acusado esses grupos de “mercenários estrangeiros”.

    Elas também enfraqueceram a independência da Justiça no país, criando um gabinete judicial, chefiado pela esposa do melhor amigo de Orbán, com poderes extraordinários para nomear e promover juízes, e aparelhando a Corte constitucional com juízes escolhidos a dedo. O partido de Orbán acelerou a aprovação de uma lei que estabelece um sistema administrativo de tribunais cujos juízes serão todos selecionados pelo ministro da Justiça. Esse sistema tratará de casos sensíveis que afetam o direito ao voto, ao refúgio, à associação, além de denúncias de violência policial, ou seja, é voltado para a responsabilização do Estado. Mas, nesses moldes, ele nada mais significa que a ridicularização da separação de poderes e do estado de direito no país.

    Continua após a publicidade

    Tornar “inimigos nacionais” bodes expiatórios é parte importante do manual de Orbán. Ele venceu as eleições para o terceiro mandato no ano passado demonizando migrantes, burocratas da União Europeia, Soros e quaisquer organizações ou meios de comunicação afiliados a ele. A restrição de liberdades — por meio de ataques ao Judiciário, além das ameaças, sanções ou indiciamento de jornalistas e membros de ONGs críticos ao governo — é prática proibida no direito internacional. Embora não estejam claras as lições que Eduardo Bolsonaro acredita ter aprendido na Hungria, imitar o método de governar de Orbán definitivamente não é o que queremos para o Brasil.

    Publicado em VEJA de 8 de maio de 2019, edição nº 2633

    Continua após a publicidade
    carta
    Continua após a publicidade
    Envie sua mensagem para a seção de cartas de VEJA
    Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br
    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.