Justin Welby, o Arcebispo de Canterbury e chefe espiritual da Comunhão Anglicana, renunciou ao cargo nesta terça-feira, 12, após uma investigação que concluiu que foi omisso ao não denunciar um caso de abuso físico e sexual em série dentro da Igreja. Segundo a acusação, ele tinha conhecimento de crimes cometidos por um voluntário em diversos acampamentos de verão cristãos.
“Tendo buscado a graciosa permissão de Sua Majestade, o Rei, decidi renunciar”, disse Welby em uma declaração publicada no X, antigo Twitter. “Acredito que me afastar é do melhor interesse da Igreja da Inglaterra, que eu amo profundamente e que tenho a honra de servir.”
A pressão sobre Welby se intensificou nas semanas após a revelação do fato. Os pedidos por sua renúncia cresceram entre os membros do Sínodo Geral, o órgão governante nacional da Igreja da Inglaterra, enquanto alguns religiosos criaram uma petição afirmando que o arcebispo havia “perdido a confiança de seu clero”.
Poder das vítimas
Helen-Ann Hartley, a bispa de Newcastle, declarou na segunda-feira que a posição de Welby havia se tornado “insustentável” após a petição. Mas a crítica mais vocal veio das vítimas do agressor, identificado como John Smyth. Um advogado proeminente, ele abusou de adolescentes e jovens em acampamentos de verão cristãos no Reino Unido, Zimbábue e África do Sul por mais de cinco décadas.
Andrew Morse, que sofreu espancamentos de Smyth por mais de cinco anos, declarou que a renúncia de Welby é um passo inicial para reparar a omissão da igreja em relação a casos de abuso.
“(A renúncia de Welby) é uma oportunidade para ele ficar ao lado das vítimas do abuso de Smyth e de todas as vítimas que não foram adequadamente acolhidas pela Igreja da Inglaterra em seus próprios casos de abuso”, declarou Morse em entrevista à emissora britânica BBC, antes do arcebispo deixar o cargo.
Cultura tóxica
Um relatório do Inquérito Independente Sobre Abuso Sexual Infantil, ligado ao governo, revelou em 2022 que a cultura da igreja — incluindo a hierarquia engessada e deferência aos superiores, tabus em torno do tema de sexualidade e uma tendência a proteger supostos agressores em vez de vítimas — criou um ambiente onde os abusadores podiam operar com impunidade.
Essa falha sistêmica levou a Igreja da Inglaterra a ser vista como “um lugar onde abusadores podiam se esconder”, segundo o inquérito, e ampliou os apelos por responsabilização dos culpados e uma reforma do clero.