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Liz Truss, a que foi sem ter sido

A primeira-ministra anuncia a renúncia após menos de dois meses de um governo caótico, marcado por trapalhadas e projetos mirabolantes

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h36 - Publicado em 21 out 2022, 06h00
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  • A respeitada e conservadora revista The Economist fez as contas. Liz Truss se tornou primeira-ministra do Reino Unido em 6 de setembro. No dia 23, anunciou um plano econômico sem pé nem cabeça e sua capacidade de liderança desabou ladeira abaixo. Descontando os dez dias de luto pela morte da rainha Elizabeth, Truss desfrutou poder efetivo por exatos sete dias — o prazo de validade de um pé de alface, na comparação que deu origem a inúmeros memes. O autor do pacote, Kwasi Kwarteng, amigo pessoal da primeira-ministra, entrou para a história com a segunda mais rápida passagem de um ministro das Finanças, de 38 dias. Agora é Truss que bate o recorde: meras seis semanas depois de assumir o governo, anunciou a renúncia. “Não consigo cumprir o mandato para o qual fui eleita”, justificou.

    A primeira-ministra até tentou resistir, mas, ao abdicar das propostas que a levaram ao cargo, já se tornara figura secundária. Kwarteng apresentou à nação um miniorçamento que previa o maior corte de impostos em meio século, 43 bilhões de libras, e um plano de congelar o preço da energia e compensar as empresas na casa dos 60 bilhões de libras — em um país com inflação de 10,1% (recorde em quarenta anos) e dívida pública estratosférica. O impacto fez despencar o mercado financeiro e a libra. O ministro acabou demitido e seu sucessor, Jeremy Hunt, que apoiou o adversário de Truss, Rishi Sunak, na disputa pelo comando do governo, no primeiro dia de trabalho desfez tudo o que tinha sido anunciado. “Truss tornou-se um objeto de estudo sobre lideranças fracassadas”, avalia Stefan Stern, professor de gestão da Universidade de Londres.

    Seu sucessor será o quinto primeiro-ministro conservador do Reino Unido desde que a separação da União Europeia foi aprovada, em 2016, e o quarto desde que o processo entrou na reta final, em 2019. Espera-se que ele seja definido — ainda não se sabe bem como — até o fim do mês, quando o governo precisa apresentar um projeto de orçamento. Na casa da mãe joana que impera no Partido Conservador hoje, não há um nome mais provável para ocupar o cargo — fala-se até no retorno de Boris Johnson, escorraçado após uma série de escândalos. A maior preocupação entre os conservadores é que tanta turbulência leve o Parlamento a aprovar uma antecipação das eleições (o atual mandato vai até 2025). Depois da vitória acachapante que lhes deu maioria de oitenta cadeiras em 2019, os conservadores aparecem nas pesquisas com 24% das intenções de voto, contra 50% dos trabalhistas. Ocupar o número 10 de Downing Street, nessas circunstâncias, não é tarefa para vegetais delicados.

    Publicado em VEJA de 26 de outubro de 2022, edição nº 2812

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