Lula critica política comercial de Trump e fala em efeito negativo de tarifaço para os EUA
Presidente afirma que inflação e juros altos vão afetar americanos diante de importações mais caras

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez críticas, nesta quinta-feira, 27, à política comercial de Donald Trump e alertou que a sequência de tarifaços anunciados por ele será prejudicial para os Estados Unidos. A fala veio depois do presidente americano anunciar, na véspera, taxas de 25% sobre todos os carros importados no país, em um novo capítulo da guerra comercial promovida pelo republicano, justificada pelo intuito de fortalecer a indústria do país e corrigir o que chama de “desequilíbrios” nas relações comerciais.
Durante visita de Estado ao Japão, Lula afirmou que as consequências da elevação de tarifas deve ser uma alta dos preços para os americanos e, consequentemente, dos juros.
“A única coisa que eu sei é que vai ficar mais caro para o povo americano comprar. E esse mais caro pode resultar no aumento da inflação, e esse aumento da inflação significa o aumento de juros. Aumento de juros significa contenção da economia. Então, eu não prevejo um quadro positivista nessa política de aumento de taxação”, disse ele.
O petista defendeu uma agenda de multilateralismo para fortalecer a economia global.
“Eu acho que seria muito melhor discutir uma política de preço que fosse justa para todos, pros dois países. Sinceramente, estou muito preocupado com o comportamento do governo americano, com essa taxação de todos os produtos, de todos os países. E estou preocupado porque, no fundo, o livre comércio é que está sendo prejudicado, o multilateralismo está sendo derrotado, e o presidente americano não é xerife do mundo. Ele é apenas presidente dos Estados Unidos. É importante que, ao invés de tomar medidas unilaterais, que ele pudesse conversar com outros países pra tomar suas decisões”, pontuou.
Relação comercial afetada
O governo Lula já havia alertado num documento oficial enviado ao Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês), que a perspectiva de um tarifaço contra o Brasil pode “prejudicar gravemente” a relação comercial com os Estados Unidos.
No documento, que foi protocolado em 11 de março, o governo brasileiro estimou em US$ 7,4 bilhões (cerca de R$ 42,18 bilhões) o prejuízo com as tarifas, o que é equivalente ao superávit registrado pelos Estados Unidos com o Brasil no ano passado. O destaca que as taxas pesariam sobre a integração das cadeias produtivas entre os dois países e afetariam os negócios dos americanos.
“Os Estados Unidos desfrutaram de um superávit comercial consistente com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos, acumulando um superávit total de US$ 160 bilhões em bens e mais de US$ 410 bilhões em bens e serviços, de acordo com as estatísticas dos EUA”, disse a declaração.
Mais contundentes são as críticas do governo Lula na parte que trata das tarifas recíprocas, afirmando que elas vão contra as regras e compromissos da Organização Mundial do Comércio: “É importante destacar que a abordagem dos Estados Unidos sobre a questão viola seus compromissos legais sob a OMC, desfaz o equilíbrio alcançado em negociações passadas e é prejudicial às suas relações econômicas com parceiros de longa data, como o Brasil.”
Consequências para o Brasil
O USTR é uma das entidades encarregadas por Trump de fazer uma revisão de trocas comerciais consideradas “injustas” pelo republicano. O documento foi protocolado depois que o órgão abriu, em 20 de fevereiro, uma consulta pública para que cidadãos, empresas e outras instituições fizessem comentários a respeito da medida de “tarifas recíprocas”, que o governo Trump promete implementar a partir de 2 de abril. O instrumento funciona como uma forma de retaliação comercial: os Estados Unidos passarão a cobrar sobre importações estrangeiras o mesmo percentual de taxas que esses países aplicam sobre produtos americanos.
Segundo o banco Bradesco, a tarifa média brasileira de importação para os Estados Unidos é de 11,3%, com alíquotas mais elevadas para bens de consumo e quase inexistentes para combustíveis. Em contrapartida, as tarifas aplicadas pelos americanos aos produtos brasileiros são significativamente mais baixas, com uma média de apenas 2,2%. No entanto, o ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), ressaltou que a tarifa efetivamente aplicada pelo Brasil no comércio com os Estados Unidos é de apenas 2,7% em média, abaixo do índice nominal de 11,3%.
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O ônus das tarifas recíprocas se somaria à alta de impostos já aplicada ao aço e alumínio – cerca de metade das exportações de aço do Brasil vai para os Estados Unidos, o que coloca em risco uma fatia importante da produção siderúrgica brasileira. Segundo dados do governo americano, no ano passado, o Canadá foi seu maior fornecedor de aço, em volume, com 20,9% do total, seguido por Brasil (16%) e México (11,1%).